08/01/18 14h10

Após três anos de pessimismo, economia voltará a crescer em 2018

Especialistas veem novo ano com otimismo e acreditam em mais empregos, renda e vendas

A Tribuna

Após três anos de um cenário econômico adverso no País, com diminuição da atividade empresarial, aumento do desemprego e queda do poder aquisitivo das famílias, a expectativa é de recuperação consolidada em 2018. Assim projetam economistas, empresários e lideranças de comércio, serviços e construção civil consultados por A Tribuna. 

Mas, apesar do otimismo dos entrevistados, há consciência de que a retomada será tímida e estará sujeita a fatores como o resultado das eleições e a situação fiscal do País.

A economista e sócia da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro, entende que o reequilíbrio da economia - segundo ela, iniciado a partir do Governo de Michel Temer (MDB) - terá resultados positivos neste ano.

A especialista projeta expansão de 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Um dos fatores principais será o maior consumo das famílias. "A inflação baixa, que contribui para a sustentação do ganho de renda real, o aumento na geração de empregos e a alta do crédito são os principais fundamentos por trás dessa expectativa".

Na visão dela, os efeitos da reforma trabalhista serão sentidos em 2018, ainda de uma maneira incipiente, mas com elevação do ritmo de geração de postos formais de trabalho.

Outro fator favorável, afirma, é a atração de investimentos, em especial privados, o que permitirá a retomada de projetos e a compra de equipamentos e maquinário.

Panorama

O economista e vice-reitor do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), Adalto Corrêa de Souza Júnior, afirma que "nada poderá ser pior do que o ano passado". A inflação controlada e mais contratações são essenciais para um panorama mais favorável.

"O consumo das famílias é muito importante para dinamizar a economia. Isso é sentido diretamente pela população em seu dia a dia", diz.

Ele, que é mestre em Gestão de Negócios pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), defende uma grande reforma do Poder Público, para que gaste menos e seja menos burocrático, pois a situação das contas públicas é muito crítica.

"O Estado brasileiro está falido. O setor público não consegue mais investir. Os municípios estão fazendo ajuste fiscal por falta de dinheiro e estão antecipando receitas tributárias do ano seguinte para pagar o 13º salário e vencimentos dos servidores. A crise fiscal é muito grave", desabafa.

Na Baixada, Souza aposta que o setor de serviços poderá se fortalecer - inclusive, com novos empreendedores -, mas ressalta a necessidade de as pessoas estarem preparadas. "O segmento exige conhecimento. Não existe aumento de renda sem o andar de baixo construído. Infelizmente, há muita gente fora desse jogo por falta de preparo".

Empresários contêm o otimismo

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista da Baixada Santista (SincomércioBS), Omar Abdul Assaf, afirma que o setor deve crescer 3,5% neste ano em comparação a 2017, quando foram faturados R$ 23,8 bilhões.

A conjuntura econômica mais favorável permitirá que o consumidor tenha mais dinheiro para gastar. Daí a expectativa de mais contratações.

Vendas de automóveis devem subir pelo menos 10%, diz Ney Faustini, líder de concessionários (Foto: Fernanda Luz/A Tribuna)

"Cargos que lidam com o público, como vendedores e recepcionistas, terão a maior demanda, porque esses funcionários lidam com o cliente final. Essa é uma das maiores prioridades das empresas", afirma.

Embora pense ser cedo para identificar uma tendência de comportamento das vendas de cada segmento varejista, Assaf aposta em crescimento no comércio de bens duráveis, como eletrodomésticos, eletrônicos, veículos e móveis, pois foram as áreas que mais sofreram durante a crise.

O vice-presidente de Relações Capital-Trabalho e Responsabilidade Social do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), Ricardo Beschizza, analisa que os resultados positivos devem aparecer em médio prazo.

"Os sinais positivos animam o setor. No entanto, isso pode não se traduzir imediatamente no desenvolvimento imobiliário e no início de obras de infraestrutura", justifica.

O gerente da Oriental Móveis & Planejados, Milton Franco, acredita que o volume de negócios tende a aumentar nos próximos meses e que isso está atrelado ao fortalecimento da construção civil regional.

Proprietário da Chevrolet Absoluta e diretor do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos no Estado de São Paulo (Sincodiv-SP), Ney Faustini afirma que a venda de unidades novas cresceu 9,23% em 2017, depois de queda nas vendas em 2015 e 2016. Para este ano, a expectativa é que haja aumento de 10% a 21% nas operações no País.

Turismo

O presidente em exercício do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Baixada Santista e Vale do Ribeira (SinHoRes), José Lopez Rodriguez, explica que o turismo regional foi beneficiado no segundo semestre do ano passado, quando as famílias optaram por destinos locais.

"Para 2018, a expectativa é boa. Teremos 13 feriados nacionais (incluindo pontos facultativos). Desses, dez podem ser prolongados, emendando com a folga do fim de semana – um a mais que em 2017. No entanto, alguns fatores estão prejudicando o segmento, como a concorrência desleal de imóveis residenciais que atuam como meios de hospedagem", cita.

Segundo Rodriguez, outros problemas que prejudicam a imagem da região e afastam os visitantes são a falta de segurança e a presença de flanelinhas e moradores em situação de rua.

Impacto das eleições

Os rumos da economia neste ano podem ser influenciados pelas eleições presidenciais? Analistas e cientistas políticos divergem, devido à dificuldade para identificar as peças do tabuleiro político.

Para o doutorando e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Rafael

Moreira Dardaque Mucinhato, "o momento tem favorecido candidaturas outsiders, de pessoas que se colocam como gerentes e que 'não são políticos'. Isso vem se refletindo no Brasil. No nosso caso, temos a candidatura do ex-presidente (Luiz Inácio) Lula (da Silva, PT), que é estruturante em qualquer disputa, gostando-se dele ou não. Há candidaturas que estão condicionadas ao fato de ele concorrer ou não".

Doutor em Sociologia pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e professor do Instituto Federal de São Paulo – Campus Registro, André Rocha Santos crê que a única chance de o calendário eleitoral interferir no humor da economia é se despontar nas pesquisas de intenção de voto algum candidato radical e sem experiência em política econômica, como o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

Para ele, o alto desemprego e as reformas trabalhista e previdenciária tendem a beneficiar nomes mais distantes da agenda política do Governo Temer, como Lula e Bolsonaro.

O docente entende que nomes com a pecha de "reformistas" sejam interessantes ao mercado financeiro, não para a população, que sofreria com mudanças em leis e cortes de recursos públicos em áreas essenciais.

Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Adriano Oliveira pensa que o momento é propício à eleição de quem mantenha a política de reformas atual. Ele entende que o pleito não interferirá na economia, pois Temer "conseguiu estabelecer uma relação frutífera com o Parlamento" e obteve apoio do setor produtivo com a agenda econômica.