Apesar da crise, ThyssenKrupp mantém plano de investimentos
Valor EconômicoO conglomerado alemão ThyssenKrupp, presente em várias áreas de negócios no Brasil - de aço a elevadores e autopeças - mostra otimismo cauteloso em relação ao país no cenário atual de baixo crescimento da economia. Em passagem de dois dias por São Paulo e Rio, o presidente mundial do grupo, Heinrich Hiesinger, declarou ao Valor que o programa de investimento definido para as atividades locais até 2020, de R$ 2 bilhões, está mantido e sua aplicação vai ocorrer conforme as condições do desempenho econômico.
O executivo disse que as empresas da ThyssenKrupp no país têm compensado parte da perda de vendas local com exportações, beneficiadas pelo câmbio mais apreciado. Isso se verifica tanto no setor de autopeças quanto na produção de aço (placas), no Rio, que praticamente é toda exportada para a América do Norte e para unidades alemãs do grupo.
Hiesinger, oriundo da também alemã Siemens, vem realizando um trabalho árduo de pôr o rumo do grupo nos eixos. Ele assumiu o cargo em 2011 com a missão de reorganizar o portfólio de negócios da ThyssenKrupp e transformar a cultura da companhia: ser mais voltada para alta tecnologia e inovação.
No Brasil, o conglomerado obtém próximo de 60% do faturamento no negócio siderúrgico, pouco mais de 25% com componentes automotivos e plantas industriais e cerca de 15% com o setor de elevadores. De cerca de R$ 9,3 bilhões de receita líquida no ano fiscal 2014/13, encerrado em setembro, R$ 5,6 bilhões foram oriundos da ThyssenKrupp CSA, a siderúrgica que fica no distrito de Santa Cruz, município do Rio.
O executivo avalia que a América do Sul, com o Brasil à frente, tem desafios grandes pela frente. "O país vinha num caminho de crescimento e agora passa por essa fase de ajustes da economia", diz, observando que todos os setores em que grupo atua são afetados, mas não da mesma forma. "O grupo é robusto e tem capacidade de se adaptar", afirma.
A área de elevadores, por exemplo, viveu dois anos de forte crescimento - 2013 e 2014 -, aproveitando-se do boom imobiliário e de obras de infraestrutura. Mesmo com desaceleração de 10% a 15%, a base é elevada. Nesse negócio, lembrou, o grupo fez expansão da capacidade em 30%, na fábrica de Guaíba (RS). "Quando a economia voltar estaremos prontos para atender". As vendas dessa divisão no país cresceram em receita 11% no ano passado.
O câmbio, com a apreciação que vem desde 2014, tem ajudado a compensar a perda de mercado local. Um dos negócios, o de autopeças para motores, tem 30% da produção voltada para o mercado externo. Nessa área o grupo tem várias fábricas no país, a principal em Campo Limpo Paulista (SP).
Na CSA, a previsão era de fechar o ano, no fim de setembro, com produção e vendas de 4,1 milhões de toneladas de placas, a quase totalidade voltada para exportação. Mas problemas com suprimento de água (racionamento na região) para as operações da usina, que é integrada com altos-fornos, aciaria, coquerias, termelétrica e um porto, levaram à perda de 300 mil toneladas. O problema está sendo resolvido com a construção de uma tubulação de abastecimento.
Sobre preocupações com o momento de economia fraca do país, o executivo descarta medidas rígidas para os negócios locais. "Não temos planos de reduzir ou revisar nosso plano de investimento no Brasil. Dependendo de como se comportar o mercado, podemos ajustar a velocidade, atrasando um pouco o cronograma. Apenas isso". Ele ressalta que o Brasil tem muitos fundamentos consistentes: agricultura, população jovem e recursos naturais. "Estamos otimistas para o médio e longo prazos."
O executivo informa, no entanto, que pequenos ajustes tiveram de ser feitos com a crise do país. Cerca de 400 a 450 funcionários, de um total de 12 mil, foram demitidos em algumas fábricas. Mas lembra que houve contratações na nova unidade automotiva que acabou de ser inaugurada em Poços de Caldas (MG) e na nova linha de produção de Campo Limpo. "Tentamos minimizar o que foi possível para manter as pessoas", disse.
Sobre as medidas tomadas pelo governo brasileiro para fazer o ajuste econômico do país, diz que elas terão prazo para gerar resultados. "A questão é quando". O recuo no nível de atividade, todavia, já era esperado, afirma. Pelo menos o câmbio está mais competitivo que um ano atrás, disse, mas Hiesinger evitou fazer projeções sobre o PIB e a evolução do dólar no prazo de 6 meses a um ano.
Ele lembrou que a flutuação da moeda não ocorre somente no Brasil e que o grupo, por ter uma atuação global, tem de se adaptar, ajustando a cadeia de suprimento para fazer "hedge" natural.
Nos seus quatro anos de gestão, vem trabalhando para o aumento da diversificação do grupo, inclusive regionalmente, o que já traz resultados positivos. "Começamos com um resultado financeiro, o Ebit, de € 300 milhões. Para o ano fiscal 2015 [que se encerra em setembro] prevemos entre € 1,6 bilhão e € 1,7 bilhão, 30% maior que o do ano passado", afirma Hiesinger. "A estratégia está bem mais solidificada."
Globalmente, na visão do executivo, a expansão da economia e dos negócios está equilibrada. Na China, apesar da desaceleração, a ThyssenKrupp prevê crescer 12% a 15%; na Europa 1,5% - "melhor do que se esperava" - e na América do Norte uma taxa de 3,5% a 4%. "Nossas operações são bem balanceadas na Europa, Ásia e Américas", observou Hiesinger.
A respeito do papel da China no mercado de aço, ele disse que o excesso de oferta, num primeiro momento, acabou ficando no próprio mercado chinês, mas depois com a demanda menor do país começou a inundar mercados no Ocidente. E que é natural que alguns países comecem a se proteger com ações antidumping junto às autoridades de comércio. A China faz praticamente metade da produção mundial de aço e já exporta grande volume, principalmente para as Américas.
A vinda ao Brasil, quase um ano depois da última vez, declarou Hiesinger, faz parte do processo de implantação da "cultura de transformação" da ThyssenKrupp, que prevê encontros com lideranças regionais. "É um fórum anual, sempre nessa época, quando o 'board' da companhia faz visitas regionais e discute estratégias. Segundo o executivo, o objetivo é engajar todos nos negócios. Três semanas atrás, foi na América do Norte; ainda neste mês será a vez da Ásia.
No Brasil, o encontro envolveu 150 líderes do grupo e o foco foi a discussão do alinhamento estratégico do projeto em curso adotado pelo CEO e sua diretoria desde que assumiu o cargo.