02/08/10 16h41

Ampliação da malha ferroviária no país cria oportunidades

Valor Econômico – 02/08/10

A expectativa geral de quem acompanha o setor de logística é de que as oportunidades ligadas às ferrovias - tanto na administração quanto na construção da infraestrutura e dos equipamentos - multipliquem-se gradualmente com a anunciada expansão da malha do país e a necessidade de aprimorar a produtividade das empresas que atuam no setor. O país ainda usa pouco o transporte ferroviário em comparação a outras potências econômicas e a tendência é de que o déficit seja reduzido nos próximos anos por uma questão de competitividade. "O profissional que decide fazer carreira na área de ferrovias não pode ter pressa para subir na carreira. O ritmo é tradicionalmente mais lento, com processos complexos e de longo prazo", alerta o coordenador do MBA em gestão logística da Fipecafi, instituição ligada à FEA/USP, João Bio. Ele foi estagiário da Fepasa e trabalhou por 12 anos no Metrô de São Paulo. "Um dos problemas que engessam o setor em termos de oportunidades de carreira é a dificuldade para a entrada de novas empresas", diz Bio.

Esse fator, contudo, não tem impedido, a criação de postos de trabalho, especialmente nas grandes empresas que já participam ativamente do esforço para ampliar a malha e aprimorar a qualidade dos serviços prestados. Além do curso de formação voltado a engenheiros de qualquer área que queiram se especializar no setor ferroviário, outra porta de entrada na Vale é o programa de trainees. Para os jovens que conseguem passar pelo funil, as perspectivas são promissoras. A empresa já anunciou que planeja investir cada vez mais em estruturas de logística, tanto como apoio para as atividades de mineração quanto para a prestação de serviços terceirizados - a área de transporte ferroviário de cargas faturou US$ 1,3 bilhão no ano passado.

Na América Latina Logística (ALL), que obteve crescimento de 10% no volume transportado por ferrovias no ano passado, serão contratados no segundo semestre deste ano 50 jovens por meio dos programas de trainees e formação de engenheiros ferroviários. Além disso, serão mais 200 operadores de produção e 75 técnicos para funções de manutenção mecânica e elétrica de locomotivas. Assim como ocorre na Vale, a ALL aposta na formação interna. "Uma vez que não existe mão de obra pronta disponível no mercado, optamos por selecionar profissionais que demonstrem possuir valores que a companhia aprecia -mesmo que não tenham qualquer experiência em ferrovias -e prepará-los por meio dos cursos da nossa universidade corporativa", afirma o gerente de pessoas, Rodrigo Paupitz. Nas funções técnicas, os cursos são montados em decorrência de uma demanda já existente, de tal forma que o índice de contratação dos participantes beira os 100%. Para evitar que os profissionais formados em casa sejam "roubados" pelos concorrentes, a empresa aposta em um pacote de retenção que inclui monitoramento do clima de trabalho, remuneração variável e opção de o profissional crescer tanto em funções essencialmente técnicas quanto em cargos de gestão.

Na subsidiária brasileira da Siemens, 500 pessoas foram contratadas desde 2007 para atuar em funções ligadas ao setor ferroviário. Até o final deste ano, serão mais 150 empregos diretos e 450 indiretos, consequência da inauguração de uma unidade fabril em Cabreúva (SP) para reforma e fabricação de trens urbanos e composições usadas pelo sistema metroviário. A exemplo das outras grandes empresas que atuam no setor ferroviário, a Siemens desistiu de procurar mão de obra pronta e decidiu investir na formação. "Contratamos pessoas sem experiência no setor e as colocamos para trabalhar ao lado dos mais experientes. É um treinamento na prática", define o diretor executivo da divisão mobility, Paulo Alvarenga. A fábrica já está com uma encomenda que vai ocupar cinco anos de trabalho: a modernização de 98 trens das linhas 1, 2 e 3 do Metrô de São Paulo. "O mercado nunca esteve tão aquecido quanto agora. A realização da Copa de 2014 no Brasil e o projeto do trem de alta velocidade entre São Paulo e Rio são eventos históricos", afirma Alvarenga.