25/08/22 12h31

Alta inflação na Europa pode restringir investimentos das montadoras no Brasil

Indústria automotiva do continente europeu teme recessão no segundo semestre; crise pode afetar países que compõem o Mercosul

Automotive Business

A indústria automotiva da Europa teme uma recessão nos próximos meses. A alta taxa de juros e da inflação pesa sobre a demanda por carros, ao passo que os custos de energia, logística e matérias-primas atingem os lucros das montadoras. Os efeitos de uma crise no continente europeu podem impactar diretamente o Brasil.

Automotive Business apurou que a inflação e a recessão no mercado europeu teriam efeito direto sobre os países que integram o Mercosul, com impacto nos investimentos das montadoras no mercado local, em especial o Brasil.

“Uma escalada na crise da Europa tende a restringir os investimentos das montadoras no Brasil, pois hoje não é mais um mercado prioritário para as montadoras devido aos baixos volumes de vendas”, explica Fernando Trujillo, consultor da S&P Global Mobility.

Custos pesam na produção de peças automotivas

As últimas pesquisas feitas no continente mostram que os consumidores europeus estão em dúvida se adiam em pelo menos um mês a compra do carro. Consequência direta do aumento dos preços de energia, conforme destacou a VW Financial Services, braço do Grupo Volkswagen responsável pelas operações financeiras em todo o mundo.

A Continental, fabricante alemã de peças automotivas, por exemplo, espera arcar com cerca de US$ 3,6 bilhões em custos adicionais de energia, matéria-prima e logística, com os preços dos contêineres no exterior aumentando oito vezes em algumas localidades.

“O custo de insumos e componentes automotivos devem sofrer uma alta ainda maior, elevando ainda mais o preço final do veículo e consequentemente restringindo ainda mais nosso mercado. No fim, está tudo relacionado, e uma piora em qualquer um dos principais mercados acaba afetando o Brasil, principalmente pelas condições macroeconômicas”, observa Trujillo.

Recessão pode desabastecer modelos de veículos

Segundo a Acea, a associação europeia das fabricantes de automóveis, o continente registrou no fim do primeiro semestre sua maior queda na venda de veículos desde 1996. Em junho, pouco mais de 1 milhão de unidades foram comercializadas em 27 países da União Europeia.

Montadoras como BMW e Mercedes-Benz conseguiram manter seus lucros por concentrarem suas produções limitadas em modelos de alta margem. De acordo com economistas da Europa, as montadoras também se beneficiaram com a demanda de carros usados e o aumento dos preços provocado pela crise de chips.

Mas, segundo analistas, isso não deve perdurar até o fim do ano e as empresas precisam se preparar para um inverno difícil diante do agravamento da crise de energia. Como 17% dos veículos vendidos na Europa são produzidos em outras regiões, um dos impactos, caso a situação se agrave, é a queda nos volumes de produção de outras indústrias.

O consultor da S&P Global Mobility analisa que a lógica inversa também pode afetar países fora da Europa: “Com 18% da produção europeia de veículos é dedicada para exportação, uma crise na indústria automotiva pode desabastecer alguns modelos em outros mercados”.

Produção de veículos na Europa pode cair 5%

O principal motivo dos preços da energia elétrica não pararem de subir na Europa é a limitação do fornecimento de gás por parte da Rússia.

A Aptiv, empresa de autopeças da General Motors, alertou investidores de que as fábricas automotivas podem ter que parar suas produções no inverno por causa de um provável racionamento de energia. A previsão é de uma queda de 5% na produção de veículos na Europa.

“Todo esse ‘desbalanço’ na economia junto com a ruptura de fornecimento de componentes, uns afetados por insumos vindos da região da Rússia e Ucrânia, e outros por shutdowns devido à Covid, tem impactado o mercado automotivo global”, pontua Trujillo.

Fonte: https://www.automotivebusiness.com.br/pt/posts/setor-automotivo/alta-inflacao-europa-investimento-montadoras-brasil/