29/04/20 13h44

Alta do dólar favorece empresários que exportam

Diário da Região

Enquanto empresários que vendem seus produtos para o mercado externo comemoram a valorização do dólar frente ao Real, quem importa está amargando aumento dos custos dos itens e matéria-prima

Em 2020, o dólar já acumula alta de 41% e, se por um lado a valorização da moeda norte-americana é prejudicial, por outro, pode trazer benefícios. Neste caso, os dois lados da moeda são relacionados ao mercado externo. A alta é positiva para os empresários que vendem sua mercadoria ao exterior, ao mesmo tempo em que a alta aumenta o custo de quem compra produtos ou matéria-prima de fora. Nesta segunda-feira, 27, o dólar fechou cotado a R$ 5,664, leve queda de 0,07%, depois de quatro altas seguidas. Em 2020, a alta acumulada já é de 41% e, no mês, de 8,8%.

Quando se fala nos efeitos positivos da valorização do dólar em relação ao Real isso se dá porque o lucro do empresário brasileiro fica maior. Por exemplo, um contrato de venda da ordem de US$ 1 milhão, ao dólar no valor de R$ 3,30 significaria R$ 3,3 milhões de faturamento. Com o dólar na casa de R$ 5,70, o valor sobe para R$ 5,7 milhões.

A indústria Móveis Província, de Guapiaçu, que atua no mercado externo desde 2003 e vende para locais como Estados Unidos, Porto Rico, Chile, Uruguai, Paraguai, Nigéria, Rússia, etc, tem tido bons resultados. "A curto prazo os benefícios são excelentes. Tivemos uma elevação considerável da nossa margem dos contratos já negociados. E ficamos muito mais competitivos no cenário internacional", afirmou Carlos Neves, gerente de exportação da empresa.

Segundo ele, houve reações diferentes em cada mercado. "Nos EUA e Porto Rico, por exemplo, as vendas aumentaram consideravelmente porqueos clientes são muito focados no mercado digital. No mercado paraguaio e uruguaio, onde nossas vendas acontecem mais através de lojas físicas, as vendas recuaram muito. E, recentemente conseguimos excelentes vendas para o mercado africano por conta do aumento do dólar. Esses clientes estão aproveitando o momento para comprar mais barato", afirmou.

Para Neves, as empresas que se internacionalizaram estão sofrendo menos com essa crise por conta da diversificação de mercado e da alta do dólar. "Se estudarmos um pouco sobre a história da economia brasileira podemos entender o quão volátil somos, portanto, na minha opinião, é importantíssimo entender como se internacionalizar."

De acordo com o despachante aduaneiro Paulo Narcizo Rodrigues, da Caribbean Express, esse movimento do câmbio já começou a refletir no volume de exportações em sua empresa. Os negócios que, em média, ficavam na casa de 200 a 230, já bateram em 300. "Os setores que têm sido beneficiados com as exportações são de carne, miúdo bovino, amendoim e sucos", afirma.

O momento só não é melhor porque a economia mundial está abalada pela pandemia do coronavírus. Com isso, as vendas feitas pelos países estão menos intensas. "Além disso, quem fez o contrato acaba pedindo um desconto ao vendedor por saber da alta do dólar no Brasil e mesmo em função da pandemia", explica Márcio Marcassa Júnior, despachante aduaneiro da Rioport.

Importações

O outro lado da moeda é prejuízo para quem importa. Se já havia problemas causados pela pandemia - que atrasou ou dificultou a entrega de mercadorias - o aumento na cotação do dólar é outro prejuízo. "Isso significa que o valor do produto ficou mais caro, além do custo do imposto, do frete. Sobe tudo de uma vez", explica Rodrigues.

Segundo ele, em sua empresa já houve uma queda de 70% no número de contratos de importações e o que deve permanecer em Rio Preto é a compra de salmão, que vem do Chile. "Só não caiu mais porque as compras já estavam programadas. Mas a tendência é de que no próximo mês não fique praticamente nada", disse.

Marcassa completa dizendo que o impacto disso vai ser nos preços e na própria inflação. Se aumenta o preço do peixe importado, isso vai refletir no bolso do consumidor. Outro produto que deve ser impacto é o pão, já que quase todo o trigo vem de fora. "A matéria-prima que vem de fora vai ficar mais cara e isso vai representar aumento da inflação. O que pode melhorar é o déficit da balança."

O especialista se refere ao saldo negativo da balança comercial de Rio Preto. O valor é resultado da diferença entre exportações e importações. No primeiro trimestre deste ano, o saldo fechou negativo em US$ 26 milhões, resultado de US$ 4,32 milhões de exportações e de US$ 30,39 milhões de importações. O ideal é que o resultado da balança comercial fosse positivo. Com a alta do dólar, o que pode ocorrer é uma diminuir dessa diferença.

Entre janeiro e março, as exportações totalizaram US$ 4,32 milhões, com destaque para artigos ortopédicos (20%), miudezas comestíveis de animais (16%) e móveis e suas partes, assim como preparações capilares, ambas com 10%. O resultado fez com que Rio Preto ficasse na 191ª colocação estadual e na 737ª na nacional.

No mesmo período as importações totalizaram US$ 30,39 milhões, com destaque para peixes frescos (41%), diodos, transístores (21%) e itens de circuitos elétricos (3,5%). Com este volume, a cidade fica na 62ª colocação estadual e na 179ª do ranking nacional.

Dados

Balança comercial

    Período: Primeiro trimestre (janeiro, fevereiro e março)

    Saldo - -US$ 26 milhões

Exportações

    US$ 4,32 milhões

    0,04% participação no Estado

    0,009% de participação no País

    191ª colocação no Estado

    737ª colocação no Brasil

Produtos

    20% artigos e aparelhos ortopédicos

    16% miudezas comestíveis de animais

    10% móveis e suas partes / preparações capilares

Importações

    US$ 30,39 milhões

    0,2% participação no Estado

    0,07% participação no País

    62ª colocação no Estado

    179ª colocação no Brasil

Produtos

    41% peixes frescos ou refrigerados

    21% diodos, transistores, etc

    3,5% itens de circuitos elétricos

Fonte - Ministério da Indústria, Comércio exterior e Serviços