18/04/08 11h19

Alta de juros não afeta atividade no curto prazo

Valor Econômico - 18/04/2008

Não há consenso entre os economistas ouvidos pelo Valor sobre os efeitos da mudança da atuação do Banco Central (BC) sobre o investimento e a atividade econômica, ao subir na quarta-feira a taxa de juros em 0,5 ponto percentual. Antônio Licha, coordenador do Grupo de Conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) prevê desaceleração dos investimentos e do crescimento do PIB a partir do segundo semestre. "A indústria e os serviços vão desacelerar, o consumidor vai comprar menos e os investimentos das empresas vão diminuir", diz Licha, que aguarda mais três altas consecutivas de 0,5 ponto percentual na taxa de juros pelo BC. Ele prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) fechará com um crescimento em torno de 6% no primeiro semestre e passará a uma alta de 4% no segundo semestre, com uma média de 5% no ano. Os investimentos em máquinas, equipamentos e construção civil devem arrefecer. A estimativa é do ritmo de crescimento do investimento passar dos 13% apurados em 2007 para algo em torno de 10% este ano, sem problemas no equilíbrio entre oferta e demanda. Já para o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, deve haver efeito de retração dos investimento no segundo semestre deste ano e o Brasil pode perder a oportunidade de consolidar o crescimento sustentado com investimentos. Para ele, não está clara a coordenação do desenvolvimento sustentado no país. O presidente do Ipea ressalta ainda o efeito negativo sobre as contas externas com a elevação da Selic, ao valorizar a taxa de câmbio e estimular as importações. Na avaliação do diretor de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, a alta de juros não vai afetar os investimentos, mesmo com a previsão de que o BC vai repetir a dose de 0,5 ponto mais duas ou três vezes. O economista do Bradesco cita a pesquisa feita mensalmente pelo próprio banco com 1.600 empresas segundo a qual os empresários consideram cada vez menos importante um eventual aumento de juros nos seus planos de negócios. Barros manteve a projeção de crescimento do PIB para 4,8% em 2008 com alta de 12% nos investimentos. Na sua avaliação, a alta de juros foi necessária e afetará as expectativas dos formadores de preços e salários, uma vez que há pressões nos custos das empresas, especialmente dos insumos. Já o diretor de macroeconomia da consultoria LCA, Fernando Sampaio, prevê pouco efeito sobre os investimentos em 2008, uma vez que os projetos das empresas estão em curso ou programados. "A questão vai ser o investimento em 2009", diz. Para Sampaio, caso o aumento de juro seja breve e de baixa intensidade, o impacto pode ser pequeno sobre o investimento e o crescimento da economia.  Sampaio acredita que o BC subirá a taxa de juros em mais 1 ponto percentual, no máximo. Na sua avaliação, o efeito sobre a inflação será rápido, uma vez que a alta dos juros favorece ainda mais a valorização do real, o que ajuda a conter os preços. Ele diz ainda que a alta do juro neste momento pode ser mais eficaz para conter a demanda porque o volume de crédito hoje na economia é bem superior ao de três anos atrás, quando o BC também subiu a taxa Selic.