Albioma adquire unidade de cogeração por R$ 137 milhões
Valor EconômicoA francesa Albioma fez sua primeira aquisição no Brasil, seis meses após anunciar que o país, maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, seria sua plataforma de crescimento em eletricidade vinda de biomassa. Por R$ 137 milhões, a empresa comprou 100% da termelétrica Rio Pardo, pertencente à usina sucroalcooleira Rio Pardo, localizada no município paulista de Cerqueira César.
A Albioma vai financiar R$ 50 milhões da aquisição, via Itaú BBA, de forma que a dívida da termelétrica, de R$ 25 milhões, será elevada a R$ 75 milhões. Assim, descontando do valor total do negócio (R$ 137 milhões) a dívida de R$ 75 milhões, o desembolso efetivo da companhia francesa será de R$ 62 milhões.
Para a usina Rio Pardo, a operação vai significar uma redução de dívida em R$ 25 milhões (que foi transferida para a termelétrica) e a injeção no caixa de R$ 112 milhões, afirma Luis Felipe Trindade, executivo de finanças corporativas da trading inglesa Czarnikow, que prestou assessoria para a usina Rio Pardo na transação.
Ele explica que a termelétrica foi dissociada do grupo sucroalcooleiro e transformada em uma Sociedade de Propósito Específico (SPE). Pelo acordo, a Albioma terá o direito de uso do ativo por 20 anos, quando a termelétrica volta para as mãos do antigo controlador.
A usina sucroalcooleira continuará fornecendo o bagaço para cogeração, e agregará ao processo também a palha do canavial. A termelétrica Rio Pardo tem potência instalada de 60 Megawatts (MW), 10% da capacidade que a Albioma a pretende atingir no Brasil em dez anos - 600 MW.
Frédéric Moyne, presidente da companhia francesa no Brasil, disse ao Valor que o primeiro passo será o de elevar a eficiência da planta, aos patamares das outras unidades controladas pela empresa - nas Ilhas Maurício, no oceano Índico e na Ilha de Guadalupe, no Caribe. A produtividade atual da termelétrica Rio Pardo é de 40 quilowatts/hora (kW/h) por tonelada de biomassa. O potencial, segundo Moyne, é de elevar esse desempenho para 80 kW/h.
Para isso, serão feitos ajustes, como, por exemplo, de aumento da qualidade do bagaço, por meio da redução de sua umidade, detalha Moyne. "Esse ajuste trará benefícios para a cogeração, mas também para a produção de açúcar e etanol, na medida que aumentará a quantidade de caldo na indústria", explicou.
Atualmente, a usina Rio Pardo tem capacidade para processar 2,1 milhões de toneladas de cana por safra. Quando a produtividade da termelétrica for elevada para 80 kW/hora por tonelada de bagaço, o que será feito nos próximos meses, o volume de energia exportado será de 160 gigawatts/hora.
Há planos em andamento, segundo Moyne, de ampliar em 15 MW, para 75 MW, a potência instalada da planta. O projeto, contudo, depende da decisão da usina Rio Pardo de ampliar para 3 milhões de toneladas sua capacidade atual de moagem.
O acordo prevê que, se a usina decidir pela expansão, haverá uma contrapartida da Albioma. Assim, o projeto para ampliar a cogeração demandaria por parte da francesa R$ 95 milhões, sendo R$ 20 milhões para a Rio Pardo, e R$ 75 milhões para a instalação da caldeira adicional e de uma turbina. Com isso, a exportação de eletricidade aumentaria em 110 GW/h, para 270 GW/h.
Luis Felipe Trindade esclarece que a Rio Pardo não assumiu no acordo nenhuma obrigação de realizar a expansão. "No entanto, a usina foi desenhada para moer 3 milhões de toneladas e já dispõe de parte dos equipamentos para realizar essa ampliação. Conversas estão em andamento", afirma Trindade.
O modelo de negócio da Albioma é o de comprar 100% ou participação majoritária em unidades de cogeração e assumir o gerenciamento da planta - diferentemente da estratégia dos concorrentes no Brasil que adquirem a geração futura de caixa e deixam o ativo para a usina administrar, explica Moyne. "Há seis meses, quando definimos o Brasil como um foco, não tínhamos certeza de que nosso modelo de negócio seria aceito. Essa primeira aquisição nos deixou confiantes de que estamos no caminho certo", afirma.
A Albioma, que faturou em 2013 € 364 milhões, anunciou que projeta investir nos próximos dez anos R$ 1,2 bilhão em cogeração de energia no Brasil, o equivalente a 40% dos aportes globais da companhia no período. "Estamos conversando com vários grupos de usinas no Brasil e não descartamos também investir na construção de uma planta a partir do zero", diz Moyne.