Airbus mira o mercado brasileiro de defesa
Valor EconômicoA Airbus Defence and Space, divisão do grupo Airbus e uma das dez maiores companhias do setor de defesa no mundo, com faturamento de € 14 bilhões, tem planos para expandir a presença dos seus negócios no Brasil, no curto e médio prazo nas áreas de aeronaves militares, sistemas espaciais, comunicação, inteligência e segurança e eletrônica.
O diretor comercial da Airbus Defence and Space, Christian Scherer, afirmou que a expectativa é de que nos próximos dez anos o mercado aeroespacial e de defesa da América Latina movimente negócios da ordem de € 48 bilhões. "O Brasil é um mercado chave na região. Somos e continuaremos a ser o mais brasileiro de todos os grandes grupos aeroespaciais em atuação no país", disse o executivo.
A empresa, conforme revela o executivo, está em fase de criação da Airbras, uma companhia que dará suporte às 12 aeronaves de transporte logístico C-295, que a Força Aérea Brasileira (FAB) opera com a denominação de C105 Amazonas. As aeronaves cumprem missões de transporte aéreo militar e logístico, lançamento de paraquedistas e carga, busca e salvamento, evacuação aeromédica. Atualmente, estão localizadas nas bases aéreas de Campo Grande (MT) e de Manaus (AM).
O diretor também confirma o interesse da empresa de instalar um centro de manutenção, reparo e revisão (da sigla em inglês MRO), que em uma segunda etapa também poderia atender à frota de aeronaves civis da Airbus no país.
A companhia europeia acaba de fechar a venda de mais três aeronaves do modelo na versão busca e resgate (do inglês SAR), um contrato assinado com a FAB de € 187 milhões. O montante inclui o suporte logístico para as aeronaves. O primeiro avião deverá ser entregue no quarto trimestre de 2016 e o último no final de 2017.
Segundo o presidente da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate da Aeronaútica (Copac), brigadeiro Augusto Crepaldi, o contrato com a Airbus foi assinado no final de abril, mas entrou em eficácia no dia 17 de junho, depois de passar por trâmites burocráticos.
A FAB adquiriu o primeiro lote do C105 Amazonas em 2005, época em que também entregou à Airbus a tarefa de modernizar nove aeronaves de patrulha marítima P-3 Orion. Os dois contratos foram avaliados à época em mais de US$ 700 milhões. A última aeronave P-3 modernizada, de acordo com Scherer, já está sendo testada em voo nas instalações da Airbus em Sevilha, na Espanha, e será entregue à FAB em breve.
Na área espacial, o grupo quer que sua empresa espacial no Brasil, a Equatorial, de São José dos Campos, tenha forte posição na cadeia de fornecimento global da companhia. O diretor ressalta que "a Airbus, ao contrário de outras empresas internacionais, tem feito investimentos significativos no Brasil e com resultados tangíveis, que vão muito além de projetos de pesquisa genéricos".
O executivo também destaca a parceria da empresa com a com a Atech, controlada pela Embraer, para o desenvolvimento do sistema de missão naval para o programa do helicóptero EC-725, coordenado pela Helibras. Scherer ressalta ainda o investimento de 450 milhões de euros já feitos no âmbito deste programa pela Airbus Helicopter e Helibras na transferência de tecnologias e na indústria brasileira.
No Parque Tecnológico de São José dos Campos, a companhia europeia instalou um centro de pesquisa e tecnologia, onde pesquisadores e técnicos da Airbus Defesa e Espaço irão desenvolver projetos e parcerias com a indústria aeroespacial e de defesa brasileira. Um dos focos da pesquisa no local é o programa Sisgaaz (Sistema de Gerenciamentoto da Amazônia Azul), coordenado pela Marinha, cuja fase de implantação está avaliada em R$ 14 bilhões.
O Valor apurou que a Airbus já estaria fazendo composições com alguns grupos locais, que atuarão como "main contractors" no Sisgaaz, para participar da competição. A fabricante europeia não esconde o interesse de uma parceria com a Embraer, com quem afirma ter um relacionamento muito bom, assim como um enorme respeito pela sua liderança.
O diretor Christian Scherer, da Airbus Defence, acredita que haja oportunidades significativas para que as duas empresas possam trabalhar juntas e de forma complementar. "Em algumas áreas as nossas condutas convergem para uma concorrência saudável e na maior parte das outras para um ganho de capacidades complementares", afirmou.