Airbnb planeja roteiro para expansão no país
Plataforma de compartilhamento de hospedagem investe em marketing e na ampliação e diversificação dos imóveis ofertados para alcançar um novo público no mercado brasileiro
Brasil EconômicoParte de um grupo seleto de start-ups globais, o Airbnb encerrou 2014 com um valor de mercado de US$ 10 bilhões e como uma das meninas dos olhos dos principais fundos de investimento em tecnologia. Após despertar a atenção e os aportes financeiros nos arredores do Vale do Silício, a plataforma on-line de compartilhamento de hospedagem prepara agora um novo roteiro para consolidar essa mesma imagem promissora junto ao público em geral. E como um dos dez maiores mercados da operação, o Brasil é uma das vias para a empresa ocupar novos espaços nos planos de viagem dos consumidores.
“Levamos quatro anos para atingir a marca global de 1 milhão de hóspedes. Hoje, registramos esse crescimento em um mês. Mas ainda estamos longe de ser uma empresa ‘mainstream’. Essa visão está mais restrita ao mercado de tecnologia. Nos Estados Unidos, por exemplo, apenas 3% da população conhecem o Airbnb”, diz Christian Gessner, diretor-geral do Airbnb no Brasil. “Muitos ainda nos enxergam como uma opção apenas para jovens e mochileiros. Mas nós queremos aparecer no mapa como a opção número para qualquer pessoa que queira viajar, dentro ou fora de qualquer país”, afirma.
Para alcançar esse novo patamar no Brasil, uma das estratégias será a expansão geográfica. De um total de 3 mil imóveis anunciados no início da operação local, em 2012, hoje, o Airbnb tem uma oferta de 45 mil imóveis, com mais de 100 mil leitos. Um dos impulsos para esse salto foi a Copa do Mundo. Durante o torneio, o Airbnb respondeu pela hospedagem de 20% dos visitantes e movimentou US$ 38 milhões. Em média, os anfitriões cadastrados na plataforma tiveram uma renda de US$ 4 mil. “Com a Copa, consolidamos uma boa presença nas principais capitais. Agora, nosso foco é expandir para o litoral e toda a costa brasileira”.
Essa abordagem será complementada pela ampliação do tipo de acomodações disponíveis, bem como da maior variedade de preços. Hoje, globalmente, os usuários conseguem encontrar opções que vão desde quartos a mansões, ilhas particulares, castelos, casas em árvores e até iglus. “Já temos ofertas com diárias que vão de R$ 30 até R$ 20 mil, R$ 30 mil. A ideia é aumentar esse leque”, explica.
O plano é explorar a base de anfitriões já cadastrada na plataforma para buscar indicações de conhecidos e familiares interessados em participar. Outra frente é a oferta de ferramentas para atrair novos anfitriões. Uma das aplicações permite estimar a renda que um novo anfitrião pode obter com a locação de um determinado espaço.
O Airbnb ma cobra uma taxa de 3% dos anfitriões e de 6% a 12% dos hóspedes. Em contrapartida, os usuários têm acesso a recursos como avaliações de ambos os perfis, intermediação dos pagamentos, garantias contra danos — para anfitriões — e novas acomodações, caso o hóspede não esteja contente com sua primeira escolha.
Na trilha para o novo estágio, o Airbnb também está começando a investir em ações de marketing, algo que até então não estava no escopo da companhia. “Por convicção, nossos fundadores sempre acreditaram que como o nosso produto é tão sensível, era preciso conquistar a confiança dos usuários passo a passo, no boca a boca. Por isso, nunca investimos em qualquer ação tradicional ou on-line. Mas para alcançar grande parte dos usuários, estamos mudando essa abordagem agora”, diz.
Uma das ações já realizadas, e que envolveu o Brasil, foi a doação de US$ 10 para 100 mil anfitriões em todo o mundo. O Airbnb sugeriu que esses parceiros fizessem um gesto de amizade para um estranho e divulgassem vídeos na internet sobre a boa ação, o que gerou uma série de virais na web. Nos últimos meses, a companhia promoveu ainda ações que ofereciam, por exemplo, uma hospedagem de luxo em um cable car nos Alpes ou uma noite em um hotel-avião da KLM. “Vamos desenvolver uma ação específica desse porte para o Brasil, com algo bem representativo do país”, afirma Gessner.
Outra iniciativa envolve a Olimpíada de 2016. Após anunciar uma parceria para ser o fornecedor oficial de serviços de hospedagem alternativa do evento, o Airbnb planeja ações envolvendo ingressos para anfitriões e hóspedes, a participação desses usuários na corrida de revezamento da Tocha Olímpica e a acomodação dos cerca de 70 mil voluntários da competição.
No entanto, o executivo diz que o potencial do Brasil não está restrito aos turistas estrangeiros atraídos pelos grandes eventos. “Existe vida além da Copa e da Olimpíada. Há três anos, 90% dos nossos hóspedes no país eram estrangeiros. Hoje, esse índice é de 70% e a tendência é que isso se equilibre cada vez mais”, diz. “A economia compartilhada tem muito potencial para deixar de ser um mercado de nicho. Hoje, já temos pessoas que aproveitam a plataforma para oferecer produtos como carros, barcos e celulares para os hóspedes e até mesmo fantasias de Carnaval. Mas a abertura para outros segmentos ainda não é o nosso foco. Temos muito para conquistar em viagens e turismo”, afirma.