Agronegócio paulista apresenta padrão de crescimento balanceado
Agência FapespOs segmentos que formam o agronegócio paulista têm apresentado um padrão de crescimento mais balanceado em comparação ao conjunto da economia brasileira, em que se tem observado um marcante processo de desindustrialização.
A constatação é de um estudo sobre a dimensão do agronegócio no Estado de São Paulo, integrante do projeto “Contribuição da FAPESP ao desenvolvimento da agricultura no Estado de São Paulo, apoiado pela Fundação.
De acordo com Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e coordenador do estudo, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio paulista saltou de R$ 195,7 bilhões em 2008 para R$ 213,1 bilhões em 2013 – com um crescimento acumulado de 8,86% no período, participação de cerca de 20% no PIB do agronegócio brasileiro e de, aproximadamente, 15% no PIB do Estado de São Paulo.
O segmento que cresceu mais rapidamente dentro do setor nesse período foi o da agropecuária “dentro da porteira” – composta pelo segmento primário (de produção de matérias-primas) –, com uma taxa acumulada de 13,41%, seguida dos segmentos agroindustrial, com 9,74%, e de serviços, com 9,61%.
Já o segmento de insumos foi o único que registrou retração de 6,51% no acumulado de 2008 a 2013, apontou Barros.
“Essa queda foi devido, em grande parte, à crise financeira mundial, em 2008, cujos reflexos foram sentidos mais fortemente em 2009 e que ainda não foram completamente debelados”, disse Barros à Agência FAPESP.
Em 2008, os produtores rurais reduziram em 23% seus investimentos em máquinas e insumos – especialmente defensivos (-7,5%) e rações (-10%), e o PIB da agropecuária caiu quase 3%.
Ao mesmo tempo, os preços reais – que também determinam o PIB do segmento – despencaram com a queda de quase 40% no preço do petróleo naquele ano, afirmou Barros.
“A partir de 2010, o PIB agropecuário recuperou seu crescimento basicamente pelo aumento da produtividade e do comportamento mais favorável dos preços de seus produtos”, disse.
Base agrícola
Segundo o pesquisador, o agronegócio paulista está assentado, fundamentalmente, nas atividades de base agrícola – que representam 82% do Produto Interno Bruto (PIB) do setor –, em contraposição às de base pecuária, que representam os 18% restantes.
“O segmento primário representa 9,5% do PIB do agronegócio paulista, enquanto o de serviços é responsável por 42,9%, o agroindustrial por 41,4% e o de insumos por 6,1%”, comparou o pesquisador.
Entre as atividades agrícolas do estado o grande destaque em termos de área cultivada é a produção de cana-de-açúcar, que utiliza cerca de 60% da área plantada. O milho vem a seguir com 13%, seguido pela soja e a laranja que ocupam, respectivamente, 7% e 8% da área plantada.
A cana também lidera a geração de renda em atividades agrícolas, com 46%, seguida pela laranja com 16%, o milho (6,6%), soja (4%) e café (3,6%).
Já no conjunto das atividades agroindustriais destacam-se a indústria sucroalcooleira, que possui 22% de participação no PIB agroindustrial, seguida pela de celulose e papel (15,4%), bebidas (10,1%), abates de animais (6,1%), móveis (5,9%), panificação (4,6%) e vestuário (4,1%).
Apesar de ser proveniente do segundo produto agrícola mais cultivado no estado, o suco de laranja, contudo, representa apenas cerca de 3% do PIB agroindustrial paulista, ponderou Barros.
“O suco de laranja representa uma pequena agregação de valor à matéria-prima. A indústria transforma um valor de R$ 1,66 bilhão da produção da laranja em R$ 1,97 bilhão de suco, o que representa uma agregação de 18,7%”, calculou.
“Já a indústria sucroalcooleira transforma R$ 4,8 bilhões de cana em R$ 13,6 bilhões de açúcar e etanol, quase triplicando o valor da matéria-prima”, comparou.
Especialização produtiva
O estudo aponta para a especialização produtiva e a concentração da renda agrícola em poucas atividades e maior importância e diversificação na agroindústria e serviços. Isso torna São Paulo bastante dependente da compra de produtos agropecuários de outros estados para assegurar o processamento e o abastecimento interno, avaliou Barros.
“O agronegócio paulista processa – via agroindústrias – e movimenta – via o segmento de serviços – um volume significativo de matérias-primas de fora do estado, que são processadas e consumidas internamente ou exportadas de volta para outros estados ou para o exterior”, avaliou.
O Centro-Oeste do Brasil, por exemplo, fornece para São Paulo bovinos para abate, soja e milho para esmagamento e madeira para a produção de celulose.
Já Minas Gerais fornece madeira para serraria juntamente com o Estado do Paraná, que também fornece suínos. E parte do algodão processado em São Paulo vem de Goiás e da Bahia, enquanto o trigo é procedente de estados do Sul do país e da Argentina, apontou Bastos.
“Essa importação por São Paulo de alguns produtos e insumos de alguns estados e países, contudo, é normal, uma vez que, para o estado e para o país, o que importa é que cada região produza de acordo com suas vantagens comparativas”, ponderou o pesquisador.