AGC anuncia investimento de R$ 700 milhões em nova fábrica
Valor EconômicoA fabricante japonesa de vidros Asahi Glass Company (AGC) anuncia hoje a decisão de ter sua segunda fábrica no Brasil, que receberá investimentos de R$ 700 milhões. Os aportes incluem terreno, obras civis e equipamentos. A unidade produzirá vidros para a construção civil - mercado imobiliário e infraestrutura. A previsão é que a partida das operações da unidade industrial ocorra no fim de 2018. Com capacidade de produção diária de 850 toneladas de vidro plano, a unidade será erguida na região Sudeste, em local a ser definido nas próximas duas semanas.
O anúncio, neste momento em que a economia brasileira vive seu segundo ano de queda do crescimento, é uma aposta da AGC no potencial do mercado, de acordo com o presidente global da divisão de produtos para construção civil do grupo japonês, Jean-François Heris. "Nossa decisão está em linha com a de cinco anos atrás, quando entramos no mercado brasileiro. Estamos felizes com nosso investimento, apesar da situação atual", afirmou Heris ao Valor.
Tomada nesta semana, a decisão se baseia em fundamentos como o crescimento populacional do Brasil, segundo o presidente da AGC Vidros do Brasil, Davide Cappellino, que resulta em novas necessidades de demanda. "O mercado imobiliário está em desaceleração, mas os fundamentos são robustos", afirma o executivo. Em 2016, o setor imobiliário pode ter a quinta redução anual consecutiva no país.
O presidente da operação brasileira reconhece também que as vendas de vidros para a indústria automotiva caíram, com a forte retração do setor. Nas projeções mais pessimistas, as vendas domésticas de veículos encolherão 22% em 2016, para o pior patamar em uma década.
"Acreditamos no país e acreditamos que as coisas podem mudar mais rapidamente do que as pessoas acreditam", afirma o presidente global da divisão. O executivo diz que, em momentos de crise, as pessoas tendem a ser excessivamente pessimistas, e é preciso haver mais confiança por parte dos brasileiros. Há muito protecionismo no país, na sua avaliação. "Pequenas mudanças podem levar a grandes mudanças", afirma Heris.
Questionado sobre a razão do otimismo, o executivo global afirmou que a AGC é "racional e toma suas decisões baseadas em fatos, inteligência de mercado e em linha com sua estratégia". "Temos foco no futuro", diz Heris.
A AGC começou a atuar no mercado brasileiro há cinco anos, com a instalação de uma fábrica em Guaratinguetá (SP), que tem capacidade de 600 toneladas por dia e que atende ao setores automotivo, da construção civil e de decoração. Recebeu investimento próximo a R$ 1 bilhão. Os produtos são vendidos para transformadores e distribuidores, e há exportação para o Uruguai, Paraguai, Bolívia e Colômbia. Na unidade, são fabricados também espelhos, vidros pintados e outros itens para decoração em uma parcela da produção.
A nova fábrica vai possibilitar que a AGC mais do que dobre a capacidade instalada no país. A segunda unidade vai concentrar toda a produção de vidros planos a ser direcionada para infraestrutura, empreendimentos residenciais e escritórios, incluindo vidros de uso externo e interno. O foco é o mercado doméstico, mas uma parcela menor será direcionada também à exportação. "Queremos consolidar o Brasil como nossa base industrial na América do Sul", diz Cappellino.
A definição do local da nova fábrica, que poderá ser construída também em Guaratinguetá, passará pela avaliação da logística em relação a fornecedores e clientes. Há conversas com autoridades também sobre possibilidade de incentivos fiscais, mas esse não é o principal critério, de acordo com o presidente da AGC Vidros do Brasil. Assim que definido o local, a empresa buscará a obtenção de licenças para o projeto.
O financiamento para a unidade será feito, principalmente, com recursos obtidos no Japão, mas parte do crédito pode ser contratada também no Brasil, por exemplo, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A empresa estima que sejam criados 500 empregos quando a segunda unidade entrar em operação, mesmo número de pessoas que a primeira fábrica emprega. É estimada a contratação de 1.000 pessoas durante o período de construção.
O faturamento da AGC Vidros do Brasil não é informado.
A AGC, sediada em Tóquio, é líder mundial na produção de vidro plano para a indústria da construção, automotiva, energia solar e outras indústrias especializadas. No ano passado, o faturamento global da companhia foi de cerca de US$ 12 bilhões.