Aeroportos viram espaço de negócios
Valor EconômicoAeroportos são oásis de prosperidade. O autor da frase, Clóvis Cordeiro, tem 23 anos de experiência na locação de espaços em aeroportos. Cordeiro é diretor da empresa 29Horas, que negocia concessões nos 60 aeroportos da rede Infraero. Embora se trate de "receita marginal" e por isso mesmo muito sujeita aos solavancos da economia, os ganhos permanecem firmes.
"O aeroporto continua sendo um ambiente com grande número de pessoas viajando a negócio. E essa mescla de executivos em trabalho com pessoas viajando a lazer, torna o ambiente muito favorável para se fazer comunicação business-to-business", diz. Para se ter uma ideia, apesar da crise que afeta os negócios há três anos, a receita da 29Horas mantém aumento médio de 10% ao ano.
"Há um custo fixo na contratação da área e os preços variam de acordo com a qualidade do espaço nos aeroportos", diz. Hoje Congonhas e Santos Dumont, afirma, passaram a ser os mais importantes para a empresa. Como concessionária da Infraero, a 29Horas opera por meio de contratos em dois formatos: os licitados e os promocionais, por tempo determinado. Nos dois casos, não há margem para renegociação: no primeiro, o pagamento é adiantado. Nos contratos licitados, como é o caso da revista 29Horas, dificilmente se consegue qualquer tipo de repactuação de valores.
Outra concessionária que cresce na esteira dos lucrativos espaços é a Coletiva. Presente em dez aeroportos brasileiros e no mercado há três anos, a empresa faturou no ano passado 60% mais que no ano anterior graças à flexibilidade da entrega de mídia. "Para 2016, a meta é crescer 100% e temos margem para isso. São cerca de 70 anunciantes que vão de bancos a corretoras de valores, passando por TV a cabo, restaurante, montadoras, entre outros. Diversificar é uma das nossas estratégias para garantir incremento no faturamento", diz Diego Gomes Martins, diretor executivo da empresa.
Segundo o executivo, a Coletiva adotou um modelo com grande capilaridade, cobrindo o aeroporto como um todo e flexibilizando os pacotes. "Garantimos uma entrega customizada e mais precisa. Temos produtos que custam R$ 10 mil por mês em aeroportos como o de Curitiba e clientes que pagam entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões mensais em grandes aeroportos", diz. Os valores cobrados pela Infraero, explica, são reajustados com base na inflação.
O grupo CCR, que tem concessões nas áreas de rodovias, metrôs, embarcações e VLT, tem participação acionária nas concessionárias de três aeroportos latino-americanos. No Brasil, possui apenas a BH Airport, responsável pela gestão do Aeroporto Internacional de Belo Horizonte (MG). O bom andamento dos negócios anima a direção.
"Hoje os aeroportos são praticamente shoppings", diz Leonardo Vianna, diretor de novos negócios da CCR. "Há uma exploração de receita com publicidade, varejo, alimentação, estacionamento, que representa uma entrada importante em um aeroporto além de aluguel de espaços para evento", afirma.
Os aeroportos, ressalta, oferecem grandes possibilidades de geração de receitas acessórias, que ficam para a concessionária. "Tem aeroportos no mundo em que a receita comercial chega a ser superior à tarifária - há casos que representam 60% do total", acrescenta o executivo.
Confins, como é conhecido o aeroporto internacional de Belo Horizonte, ainda está muito abaixo do padrão internacional, entre outras razões por servir mais a voos domésticos, cujos passageiros gastam menos que aqueles em viagens internacionais. Ainda assim, a receita comercial gerada em 2015 teve alta de 40%. Nesse ano terá um aumento que deverá acompanhar o índice da inflação, prevê Vianna.
Em Campinas, a receita com serviços da concessionária Aeroportos Brasil Viracopos não chegou a ter redução em 2016, mas houve uma frustração na expectativa da receita total, segundo Gustavo Mussnich, presidente da empresa. Para os concessionários que se ressentem da crise, a concessionária adotou algumas políticas de renegociação. "Estamos fazendo o possível para evitar que deixem os pontos por conta de falta de capacidade econômica, mas dentro de limites aceitáveis e negociados entre as partes", explica. Em 2016, relata, foram feitas algumas renegociações com concessionários que não atingiram patamares mínimos de receita. "Nesses casos estamos sendo mais complacentes", diz. Segundo o executivo, esse foi o primeiro ano que a empresa teve de flexibilizar taxas.
A Infraero, estatal que administra 60 aeroportos em todo país, por onde passam mais de 130 milhões de passageiros por ano, ou 60% do movimento aéreo nacional, informa que ela própria estabelece os empreendimentos que farão parte do mix comercial de seus terminais. É a estatal que analisa as demandas e as necessidades do público que transita por seus aeroportos, definindo também o tamanho dos espaços físicos de acordo com os negócios prospectados, tanto do ponto de vista comercial quanto operacional. "A Infraero ainda avalia o equilíbrio entre a ocupação comercial e o bom fluxo das atividades rotineiras do aeroporto, incluindo o trânsito de passageiros pelo terminal", informa a assessoria de comunicação da empresa.
Em novembro de 2015, por exemplo, foi inaugurado o Bossa Nova Mall, shopping center que atende o entorno do aeroporto Santos Dumont. O aeroporto de Recife ganhou, no mesmo ano, um serviço de contêineres de fast sleep, enquanto o aeroporto de Manaus passou a oferecer um hotel no mesmo conceito neste mês de novembro.