Aeroportos investem US$ 8,7 bilhões em TI
Valor EconômicoOs investimentos realizados pelos aeroportos em tecnologia da informação (TI) vão atingir US$ 8,7 bilhões no mundo este ano, um crescimento de 11,5% sobre os US$ 7,8 bilhões aportados nesse item pelo setor em 2014. Segundo estudo realizado pela Sita - companhia de TI controlada por um pool de 500 empresas aéreas, que está em 200 países e fatura US$ 1,8 bilhão por ano -, os terminais aeroportuários estão se tornando cada vez mais centros de serviços, além de equipamentos de infraestrutura.
O levantamento, feito com 223 operadores de aeroportos no mundo, mostra que os investimentos em TI representaram 4,4% das receitas dos terminais aeroportuários em 2013, subiram para 5,8% em 2014 e vão fechar este ano com uma participação equivalente a 6,2% do faturamento do setor.
"Essa é uma tendência que já vem ocorrendo em todo o mundo. Ocorre com velocidades diferentes de país para país, mas os tipos de tecnologia são semelhantes, até porque a aviação é uma indústria global", disse ao Valor o vice-presidente da Sita, o brasileiro Mauro Pontes.
Segundo ele, é o consumidor que vem demandando novas tecnologias. "Mesmo o passageiro doméstico exige modernização, porque ele é influenciado sempre que passa por um 'hub' internacional", disse o executivo.
Na lista dos serviços que mais recebem recursos estão os processos relacionados aos passageiros - de check-in a segurança e comércio -, que têm recebido investimentos em 73% dos aeroportos. Em seguida vêm as operações aeroportuárias, que incluem desde alocação de equipamentos ao tráfego de aviões e são prioridades para 40% dos operadores. Outro item relevante é o processamento de bagagens, que tem recebido recursos em 39% dos aeroportos.
Exemplo desses investimentos são os quiosques de auto-atendimento para check-in. Em 2014, esses terminais estavam presentes em 75% dos 200 maiores aeroportos do mundo; hoje integram 99,5% dos terminais.
O passo seguinte é universalizar o auto-atendimento no despacho de bagagens, hoje presente em apenas 1% dos terminais. Segundo a pesquisa da Sita, investimentos já em andamento elevarão a presença desse equipamento a 40% dos aeroportos até 2018.
O vice-presidente da Sita diz que o auto-atendimento é uma demanda dos passageiros, mas também representa produtividade e, assim, margem de lucro, para os donos de aeroportos.
Ele cita a tecnologia implantada em terminais digitais na Imigração dos aeroportos de Boston, Miami, Las Vegas, Los Angeles e Orlando, que reconhece a identidade dos viajantes, reduzindo o tempo das filas em até 40% nessas áreas.
Pontes aponta outra tecnologia que está se multiplicando rapidamente, o "beacon" - dispositivo sem fio que, ao ser instalado no aeroporto, conecta-se ao celular de quem entra no terminal, reconhecendo esse usuário. Segundo ele, os aeroportos oferecem esse sistema para lojistas enviarem ofertas a clientes que estão no local.
Além disso, essa tecnologia permite às companhias aéreas acompanhar a localização de passageiros e bagagens no terminal, reduzindo custos provocados por voos que atrasam por causa de pessoas perdidas ou malas extraviadas.
O vice-presidente da Sita diz que esses investimentos em TI têm sido mantidos mesmo em mercados em recessão, como o brasileiro, porque os operadores estão buscando alternativas para gerar mais receitas. "Antes, a discussão era muito em cima de custo. Hoje, a gente vê no Brasil uma maior preocupação do concessionário com relação ao retorno que vai ter a partir com o investimento."
O executivo disse que os aeroportos que integraram a primeira onda de privatização no país - Guarulhos, Brasília, Viracopos Campinas (SP) e Natal - já entraram na segunda etapa de investimentos, mais focada em serviços que em infraestrutura, como pistas e prédios. "Nossa expectativa é que Galeão [RJ] e Confins [MG] mantenham a demanda pelos investimentos no setor", afirmou.
O programa de concessão de aeroportos à iniciativa privada detonou no país uma onda de investimento em tecnologia da informação que executivos do setor calculam somar R$ 2,3 bilhões em cinco anos, o que equivale a 10% do plano total de investimentos dos seis aeroportos, estimado em R$ 22,5 bilhões.
Para o vice-presidente da Sita, essa tendência vai continuar com as concessões dos aeroportos de Porto Alegre, Florianópolis, Fortaleza e Salvador, que foram colocados em licitação este ano. Segundo o governo, esses terminais vão demandar investimentos de R$ 8,5 bilhões a partir de 2016.
Pontes diz que os investimentos em serviços nos aeroportos brasileiros não foram afetados - por adiamento de cronograma ou atrasos de pagamentos - pelas investigações da Lava-Jato, que envolvem controladoras de concessões. "São contratos regulados com prazos de investimentos, concessões que precisam seguir os projetos mandatórios", disse Pontes, lembrando que como parte da solução desse desafio tem sido ajustes societários nos consórcios.
A Invepar, por exemplo, reduziu em 10%, para 80%, sua fatia no bloco controlador de 51% do Gru Airport, ao vender algumas ações para a Airports Company South Africa, que ficou com 20% do bloco controlador. E o grupo UTC detentor de 45% da fatia privada controladora de 51% de Viracopos, em Campinas (SP), contratou três bancos com o objetivo de buscar eventuais interessados na fatia da empresa no aeroporto.