Acic espera movimentação de R$ 6,2 bilhões na RMC graças ao 13˚ salário
Pouco mais da metade da população deve destinar o benefício para o consumo, enquanto 47,9% pagarão dívidas
Correio PopularO pagamento do 13˚ salário em 2024 deve movimentar aproximadamente R$ 6,2 bilhões na Região Metropolitana de Campinas (RMC), R$ 1,7 bilhão apenas na metrópóle e R$ 4,5 bilhões nas outras 19 cidades da RMC. Os dados são do Departamento de Economia da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic). A expectativa é que a população aproveite pouco mais da metade do benefício (50,5%) para consumo. Outros 47,9% devem destinar o 13º para pagar dívidas e apenas 1,6% guardará na poupança.
De acordo com a presidente da Acic, Adriana Flosi, o 13˚ salário é um fôlego essencial para o comércio e os serviços, com o consumidor buscando equilibrar as contas e retomar o poder de compra. “É um momento estratégico para o varejo e para a recuperação da confiança econômica da região”, analisou. O valor médio do benefício neste ano é estimado em R$ 3.096,78. A primeira parcela deveria ser paga até ontem, dia 30 de novembro, e a segunda até o dia 20 de dezembro. Adriana Flosi destacou que o momento é de fortalecer as estratégias de vendas e promoções para atender às necessidades dos consumidores, incentivando o consumo responsável e o giro da economia local.
No entanto, a vida de quem deixa de cumprir uma obrigação financeira dentro do prazo de vencimento deve ser mais complicada em 2025. A inflação acumulada em 4,76% nos últimos 12 meses, e a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), que abrange as contas do governo federal, INSS e governos estaduais e municipais, que atingiu R$ 9 trilhões em outubro de 2024, valor equivalente a 78,6% do PIB, devem modificar o cenário no ano que vem. A expectativa é de aumento na taxa de juros, refletindo diretamente no valor cobrado por empréstimos bancários.
Para o professor de educação financeira da Escola de Economia e Negócios da PUC-Campinas, Eli Borochovicius, “teremos tempos difíceis em 2025”. Ele explicou que pode haver um aumento da inadimplência no país. “As pessoas endividadas não vão conseguir comprar remédios ou fazer a compra de supermercado à vista tendo que financiar esses gastos”, projetou. Ele reforçou que a taxa de juros alta interfere nos preços e, para que não tenha um aumento da inflação, a tendência é o aumento da taxa. “Se 50% das pessoas vão destinar o 13˚ para consumo de supérfluos, é um problema do ponto de vista da educação financeira.”
A auxiliar de limpeza, Jaira Silva, 44, comentou que tem um filho em idade escolar e que prevê gastos com a compra de material para a escola já em janeiro. No entanto, o 13˚ será destinado ao consumo de eletrodomésticos e presentes. “A primeira parcela eu gastei com a promoções da Black Friday, a segunda usarei para as compras de Natal”, afirmou. Ela reconheceu que precisa melhorar o planejamento financeiro para quitar as dívidas no início do próximo ano, “principalmente a do cartão de crédito, que já está estourou o limite”.
De acordo com a Serasa, 44,87% da população brasileira estava inadimplente em setembro de 2024. Em Campinas, eram 450.389 pessoas, equivalente a 37,97% da população. O professor afirmou que se o brasileiro planejasse melhor a vida financeira, os preços poderiam ser mais baixos, uma vez que a com a inadimplência menor não haveria necessidade de manter as taxas de juros elevadas para o controle da inflação. “A inadimplência é um dos grandes males em relação ao preço que é aplicado, pois quanto maior for a inadimplência da população, maior será o valor cobrado pelas empresas para superar o valor não pago pelo consumidor.”
Com relação ao 13˚, Borochovicius, entende que o ideal é destinar o valor para o pagamento das dívidas que se acumulam no início do ano, tais como IPVA, IPTU, material escolar e compras de final de ano, por exemplo. “De modo geral, o brasileiro é honesto e não gosta de ficar endividado, porém o problema é a falta de planejamento.”
Para o líder de setor de uma loja de departamentos, Jailton Filho, 39 anos, 2024 é um ano especial, pois após três anos sem conseguir equilibrar o pagamento das dívidas, ele terminará o ano adimplente com as obrigações financeiras. “Durante a pandemia eu perdi o emprego e as contas se acumularam”, contou. Ele explicou que precisou parcelar as dívidas do cartão de crédito. Apesar dos juros, conseguiu quitá-las, utilizando a primeira parcela do 13˚ para finalizar o pagamento. A segunda parcela será destinada para investimentos na poupança. “Eu faço planejamento financeiro e controlo meus gastos para não ficar inadimplente de novo”.
Borochovicius também estendeu os conselhos econômicos aos empresários, pois é através do pagamento dos salários e benefícios que o trabalhador deve planejar a vida financeira. Foi o que fez o empresário Ramon Isaia, 35 anos, proprietário de um bar no Jardim Chapadão. Ele possui seis funcionários registrados e efetuou o pagamento da primeira parcela do benefício na sexta-feira, 29, informando que realizará o pagamento da segunda parcela até o dia 20 de dezembro. Isaia contou que faz poupança com parte do pró-labore que recebe. “Eu guardo o dinheiro para que possa utilizar em casos de emergência com o estabelecimento.”
Por meio do benefício serão injetados cerca de R$ 321,4 bilhões na economia nacional, o equivalente a 3% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo estimativas do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Aproximadamente 92,2 milhões de brasileiros receberão o 13˚ salário, sendo que 66% dos valores serão pagos a trabalhadores do mercado formal e 33,3% a aposentados e pensionistas.