14/08/10 13h29

Acelerador nacional será mais potente

Folha de S. Paulo – 14/08/10

Pesquisadores brasileiros já estão trabalhando em protótipos para o segundo acelerador de partículas do país (e da América Latina). Se construída, a nova máquina será compatível com as mais avançadas do mundo. Batizado de Sirius, o projeto do LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron), de Campinas, no interior de São Paulo, ainda não tem um sinal verde do MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia). Mas os primeiros aportes de recursos, R$ 9 milhões (US$ 5,1 milhões), já foram liberados. O projeto total custaria US$ 200 milhões.

Diferentemente do acelerador do Cern (Organização Europeia para Pesquisa Nuclear), os aceleradores brasileiros - o que já existe e o que deve ser construído- funcionam como fonte da chamada luz síncrotron, que corresponde a uma ampla gama do espectro luminoso, com grande intensidade. Essa radiação, gerada pela aceleração de elétrons que correm em órbita fechada num anel, é emitida em feixes de luz finos (18 feixes no anel atual, 38 no Sirius). Tais feixes podem gerar imagens em alta resolução, por exemplo, de materiais deteriorados ou de uma única molécula.

O anel de luz síncrotron atual foi inaugurado em 1998 e, hoje, é considerado obsoleto. "Ninguém no Brasil tinha conhecimento de luz síncrotron na época. Sabíamos que teríamos de fazer um novo anel em alguns anos", conta o diretor do LNLS, Antonio José Roque da Silva. A demanda pelo anel atual, mesmo "ultrapassado", está maior do que sua capacidade. São 1.600 experimentos realizados por ano, o que cobre metade dos pedidos que chegam ao LNLS. O novo anel, que terá o dobro de energia de operação do atual e medirá 146 m (cinco vezes mais que o de hoje), poderá realizar quatro vezes mais pesquisas, estima o coordenador do projeto, Ricardo Rodrigues. "É importante ampliar a possibilidade de realização de estudos ainda não viáveis no país, em áreas como paleontologia, materiais e microbiologia", analisa Silva, diretor do LNLS.

Embora o projeto não esteja formalmente aprovado pelo governo, boa parte dos pesquisadores do LNLS já trabalha nas inovações tecnológicas para o novo anel. Se as obras começassem hoje, o anel ficaria pronto em 2016. Para esse ano, já estão previstos mais R$ 30 milhões (US$ 17,1 milhões) do MCT para desenvolvimento dos protótipos.