20/08/10 15h47

À sombra da cana, amendoim desponta no interior paulista

Valor Econômico – 20/08/10

Pouco se vê da doce fruta na cidade. Os pés de jabuticaba habitam um quintal aqui outro acolá, batizam uma antiga praça, de onde vem o nome da cidade, mas no fim das contas, o negócio de Jaboticabal é mesmo a cana-de-açúcar. E é na esteira dessa cultura que os pés do rasteiro amendoim vêm se valendo para conseguir espaço ao sol, desbancando até a soja como alternativa de rotação de cultura nos canaviais. De Jaboticabal e região parte o amendoim para os usos mais nobres da indústria alimentícia, não só nacional mas do exigente mercado europeu. Os salgadinhos estão no topo da pirâmide, por exigir grãos inteiros e claros. Torrones e chocolates sucedem os "snacks" na escala de qualidade do produto. Por fim, paçocas e doces diversos que só perdem em virtudes para o amendoim esmagado para produção de óleo de cozinha e ração.

Dessa região também vem o modelo "cana-amendoim", que está sendo replicado a outras regiões de São Paulo para onde os canaviais avançaram no lugar das pastagens - com as quais o amendoim já fazia parceria como cultura de rotação. A produção nacional dessa oleaginosa está na casa das 300 mil toneladas - apesar da queda no ano passado, resultado da menor renovação dos canaviais. Desse total, cerca de 230 mil toneladas, ou 76%, são originadas em São Paulo - o restante se distribui no Paraná, Minas e Mato Grosso.

Jaboticabal é considerada o epicentro do amendoim, que também tem outro forte polo de produção nas tradicionais regiões paulistas de Marília e Tupã. Não só pela forte produção local e dos municípios vizinhos, mas por sediar a maior cooperativa brasileira de produtores de amendoim, a Cooperativa dos Plantadores de Cana da Zona de Guariba (Coplana), que neste ano iniciou investimentos de R$ 30 milhões (US$ 17,1 milhões) para expandir em 20% a capacidade de recebimento e processamento do grão. O projeto inclui a construção de uma nova fábrica, que vai permitir automatizar 100% dos processos da unidade, que tem capacidade para receber (pré-limpeza, secagem, limpeza, envase e armazenamento) e processar (descascar, tirar película e padronizar) 50 mil toneladas de amendoim em casca, que resulta em uma produção final de 36 mil toneladas do grão.

O amendoim é uma oleaginosa de origem sul-americana e que, no Brasil, começou a ser cultivada na década de 40, também em São Paulo, para produção de óleo de cozinha e farelo. O país chegou a ser um dos principais produtores mundiais do grão e produzia o dobro dos volumes atuais, diz Renata Martins, pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura de São Paulo. Até que problemas de sanidade - marcados pela elevada incidência do fungo aflatoxina - provocaram o declínio da cultura, intensificado com o fortalecimento da soja como fonte de óleo para alimentação, conta Renata. A partir do fim dos anos 90, iniciou-se movimento para recuperar a cultura.

O primeiro passo foi a substituição da variedade rasteira por uma mais verticalizada para permitir a mecanização da colheita. Essa variedade também traz grãos maiores e mais claros, muito demandados pelas empresas europeias. Dos anos 2000 para cá, já com mais tecnologia, a produção expandiu 75%. O ganho de produtividade, devido ao uso de mais tecnologia, subiu 60%.