A Hyundai na contramão do mercado
Instalada em Piracicaba, montadora coreana opera 24 horas, em três turnos, e pretende utilizar toda a capacidade da fábrica este ano, com produção de 180 mil veículos
O Estado de S. PauloEnquanto a maioria das montadoras no País, especialmente as de maior porte, adota medidas para cortar a produção, como demissões, férias coletivas e lay-off (suspensão de contratos de trabalho), a Hyundai Motor do Brasil opera 24 horas em três turnos e, às vezes, chega a convocar trabalhadores para horas extras aos sábados. Para este ano, a marca coreana pretende repetir o mesmo volume de produção atingido em 2014, de 180 mil veículos, ocupando assim toda a capacidade de sua fábrica em Piracicaba (SP).
O presidente da empresa, William Lee, ressalta que a participação da marca no mercado total passou de 6,6%, no primeiro trimestre do ano passado, para 7,5%, neste ano, com venda de 48,4 mil veículos, dos quais 37,2 mil são dos modelos da família HB20, feitos localmente, e os demais importados ou produzidos na parceria com o grupo Caoa, em Anápolis (GO).
"Apesar da crise, não reduzimos nossas ações no mercado e estamos oferecendo um produto que tem atraído consumidores por sua qualidade", afirma Lee. Na primeira quinzena do mês, o HB20 foi o modelo mais vendido no País.
Um diferencial na estratégia de vendas da Hyundai é oferecer o modelo com 30% de entrada na compra financiada, enquanto a maioria das demais marcas pede de 40% a 50%. "Estamos atraindo muitos pais que querem comprar o primeiro carro para os filhos", diz o executivo.
O coreano Lee, de 56 anos, assumiu o comando da empresa em janeiro de 2013 e vê a atual crise econômica como "mais saudável" do que aquelas verificadas em 1997 e 2008, que foram deflagradas por problemas externos. "A pressão atual é interna, mas o Brasil tem uma base econômica forte e, com ajustes fiscais, deverá voltar a se recuperar do próximo ano".
Novo veículo. O executivo espera uma recuperação mais sustentável da economia para começar a avaliar planos de um novo produto para a fábrica de Piracicaba - que pode ser um utilitário-esportivo pequeno ou um automóvel de médio porte.
Também depende dessa retomada a decisão de produzir localmente motores e transmissões, atualmente importados da Coreia. "É um passo a ser dado quando tivermos indicadores que justifiquem o aumento da produção", afirma Lee.
Por enquanto, diz ele, a intenção é manter o investimento de US$ 700 milhões feito para a construção da fábrica, inaugurada no fim de 2012. O Brasil é o sétimo país a receber uma fábrica do grupo coreano.
Exportar para países da América Latina também está nos planos de Lee, mas, segundo ele, não depende apenas da questão cambial, "mas de uma demanda consistente por parte de mercados compradores, como Argentina e México."
A fábrica de Piracicaba emprega 2,7 mil funcionários e outras 2,3 mil pessoas trabalham no parque com nove fornecedores de componentes instalados ao redor da fábrica.
Logo no início de suas operações, a Hyundai enfrentou greve de um dia de trabalhadores que reivindicavam aumento salarial. "Negociamos com o sindicato, passamos a entender melhor a cultura e as necessidades dos brasileiros e, desde então, não tivemos nem um segundo de paralisação", informa Lee.
O secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Piracicaba, Wagner da Silveira, afirma que os salários do pessoal "de chão de fábrica" giram em torno de R$ 2,5 mil a R$ 2,7 mil. "De fato, no início tivemos problemas com a direção da Hyundai, mas isso mudou", afirma.
Para uma melhor relação com o sindicato e trabalhadores - com quem mantém contatos semanais por meio de um programa denominado "mesa redonda" -, Lee fez aulas de português uma hora por dia quando chegou ao País e hoje, em razão da falta de tempo, desenvolveu uma metodologia própria. Ele grava grupos de mil palavras em inglês com tradução em português e ouve durante seus trajetos entre a capital paulista, onde mora, à fábrica e até quando está escovando os dentes.