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A fusão da Aracruz com a VCP

Valor Econômico - 21/01/2009

A fusão entre a Votorantim Celulose e Papel (VCP) e a Aracruz Celulose cria a maior empresa mundial de celulose de fibra curta e a quarta em celulose total. Considerando-se os projetos greenfield e de área plantada das duas empresas, além dos investimentos em florestas, entre os maiores do mundo, é de se esperar que a nova companhia suba no ranking. O negócio, na prática, destrava a Aracruz, que, por causa da crise, sofreu pesados prejuízos com derivativos cambiais. A operação de compra da participação do empresário norueguês Erling Lorentzen na Aracruz pela VCP estava acertada desde agosto, mas os problemas com derivativos, surgidos em setembro, inviabilizaram o negócio, deixando-no no limbo. Depois que a poeira baixou, o grupo Votorantim, controlador da VCP, demonstrou apetite em retomar a operação. Acionista minoritário tanto da Aracruz quanto da VCP, o BNDESPar, o braço de investimentos do BNDES, condicionou apoio ao negócio a um acerto prévio das perdas com derivativos com os bancos credores. Foi a forma encontrada pelo governo de evitar que o Estado fosse a porta de saída dos prejuízos da Aracruz e dos bancos envolvidos nas operações cambiais. A companhia concluiu na segunda-feira a renegociação com dez bancos, todos estrangeiros, alongando por nove anos a sua dívida. Antes, o grupo Votorantim já havia feito o mesmo em relação às suas próprias perdas com derivativos. A renegociação abriu o caminho para a compra da Aracruz. A empresa era alvo da cobiça de companhias estrangeiras. A mais interessada, segundo um dos participantes da fusão com a VCP, era a sueco-finlandesa Stora Enso, que chegou a contratar consultores no Brasil para avaliar o negócio. A ideia era adquirir a Veracel, empresa onde o grupo estrangeiro já detinha participação acionária em associação com a Aracruz - em 2003, as duas fecharam parceria para fazer a Veracel produzir 900 mil toneladas/ano de celulose a partir de eucalipto. Com a fusão, a VCP assumiu o compromisso com o BNDESPar de migrar para o Novo Mercado. Esta é uma ótima notícia. Ajuda a fortalecer o mercado de capitais do país e obriga a nova companhia a se submeter a práticas de governança corporativa que, certamente, poderiam ter prevenido a Aracruz Celulose, e o grupo Votorantim, de se embrenhar na perigosa aventura dos derivativos cambiais. A criação de empresas nacionais fortes, competitivas, com escala de produção suficiente que lhes assegure um papel relevante no mercado mundial, é, sem dúvida, uma conquista importante do Brasil moderno. Para ficar num exemplo, há dez anos, o Brasil já era o maior produtor de minério-de-ferro do planeta, o 7º maior fabricante de aço, mas a sua empresa melhor classificada no ranking mundial da siderurgia ocupava um modestíssimo 27º lugar.