30/01/12 13h41

A cidade que fabrica talentos

Com intensa atividade cultural e artística e um roteiro de mais de 110 museus, feiras e eventos, São Paulo se situa entre as metrópoles que oferecem as melhores oportunidades para quem deseja trabalhar na indústria criativa

Adoniran Barbosa é considerado o pai do samba paulista. Criativo como só ele, o artista é um símbolo da cidade, principalmente no bairro do Bixiga, onde cansou de declamar seus enredos. E em um evento para comemorar o aniversário de São Paulo, nada melhor que “Trem das Onze” para abrir a sessão, vista por cerca de quase 200 pessoas criativas em um teatro da Avenida Paulista.

São Paulo agora com 458 anos, já é uma senhora com dotes criativos. Com diversos eventos como o São Paulo Fashion Week, Bienal do Livro e um roteiro como mais de 110 museus, a cidade mostra que não fica atrás de outras grandes metrópoles e tem o potencial certo para ser considerada criativa como: estimular talentos.

Para Ana Carla Fonseca, especialista no tema, uma cidade criativa precisa ter a prevalência de três elementos: inovação, conexão e cultura. “É preciso trabalhar conexões entre público e privado ou, por exemplo, o local com o global.” Na obra Cidades Criativas - Perspectivas, a assessora em economia criativa para a Organização das Nações Unidas (ONU) destaca que São Paulo é uma grande cidade na trilha da criatividade. “A capital paulistana abriga hoje 90 mil eventos anuais, 12.500 restaurantes, pessoas de todo o mundo e foi eleita por duas vezes o melhor destino de negócios da América Latina”.

Mas destaca que se as inovações e a cultura são suas marcas características, a cidade tem, porém, profunda carência de conexões, motivado por seu processo histórico. “Foi somente no século XIX, com a riqueza gerada pelo ciclo do café e a chegada de grandes contingentes de imigrantes, que a cidade começou a definir suas formas econômicas e cultural”, afirma Ana.

No livro, ela destaca que São Paulo reúne muitas cidades em uma só. Cheia de competências criativas e espírito empreendedor, a autora narra que essas qualidades não são suficientes para apoiar uma estratégia de desenvolvimento equânime. “A baixa qualidade do transporte público não ajuda a reunir as regiões e penaliza por horas a fio quem é obrigado a atravessar o município ou a região metropolitana. Some-se a isso uma carência de várias outras conexões: entre as pastas públicas; entre gestões públicas; e entre as singularidades de cada bairro, fruto da miopia em reconhecer que cada área da cidade tem histórias e identidades culturais complementares, nesse complexo caleidoscópio.”

Emprego criativo

Em 2010, as atividades do núcleo do setor criativo empregavam 771 mil trabalhadores formais em todo o país. E São Paulo sai na frente dentre os treze estados apurados pelo estudo “A Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”. A cidade destacou-se pelo maior número de empregados no núcleo da indústria criativa brasileira com 315 mil trabalhadores.

E trabalhar nessa indústria é lucrativo, principalmente na capital paulista. A pesquisa elaborada pela Firjan mostra que em 2010 a renda média mensal de quem atua neste setor em São Paulo é de R$ 2.775. Já a média do núcleo criativo nacional foi de R$ 2.296, valor 45% superior à remuneração média (R$ 1.588) dos empregados formais.

A análise por segmentos evidencia a força do mercado de trabalho paulistano no que diz respeito à indústria criativa. Em São Paulo, a maior remuneração entre as atividades desse núcleo é no setor de televisão e rádio (R$ 3.362 mensais em média). Na outra ponta aparece filme e vídeo (R$ 1.289).