26/06/17 12h33

Nova linha de jatos puxa venda da Embraer

Valor Econômico

A Embraer fechou menos negócios na 52ª Paris Air Show deste ano, maior feira aeronáutica do mundo, realizada na França na semana passada, que na edição anterior do evento, em 2015, frustrando expectativa da companhia. Mas, ao mesmo tempo, houve uma procura maior pela nova família de jatos E2. A fabricante brasileira, que disputa o segmento de aviões com até 130 assentos, acertou 18 pedidos firmes e a intenção de compra para mais 33 unidades, com potencial de negócios de US$ 3 bilhões. Há dois anos foram 103 encomendas, sendo 50 firmes, e valor potencial de US$ 5,4 bilhões.

Em entrevista ao Valor antes de embarcar para a Europa, o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, disse que o desempenho da empresa este ano deveria superar o de 2015, apostando na demanda por jatos comerciais da nova família E-2, que começam a ser entregues em 2018.

A Embraer ponderou que embora o volume de encomendas recebidos este ano tenha ficado aquém do conquistado em 2015, a empresa vendeu mais que na feira do ano passado de Farnborough (Inglaterra), que alterna a cada ano com Paris a sede do principal encontro mundial de fabricantes de aviões. Na cidade inglesa, a Embraer acertou encomendas para 24 jatos comerciais, entre pedidos e cartas de intenções, de valor estimado em US$ 1,43 bilhão.

"Consideramos o resultado amplamente favorável, não apenas no que diz respeito aos anúncios de novas vendas de jatos comerciais feitos durante o evento, mas principalmente pela perspectiva de novos negócios abertas a partir do interesse demonstrado em nossas aeronaves de todos os segmentos", disse Souza e Silva, depois de concluída a feira de Paris.

Analistas observaram, como ponto positivo, o predomínio das encomendas por novos jatos da família E2. Dos 18 pedidos firmes, dez foram do modelo 195-E2, o maior da família de aviões comerciais da companhia. E entre as cartas de compromisso para 33 encomendas, 30 foram para jatos E2 - sendo vinte 190-E2 e dez 195-E2.

A transição de uma família de jatos para outra geração é um desafio para geração de caixa das fabricantes, que precisam emplacar modelos novos sem perder o fluxo de entregas das unidades que estão saindo de linha.

A americana Boeing, por exemplo, conseguiu bater a rival francesa Airbus em Paris - ambas atuam em um segmento diferente do da Embraer, pois fabricam aviões com mais de 130 assentos - graças ao sucesso de um novo modelo. A fabricante dos Estados Unidos fechou 571 negócios, entre pedidos firmes, opções e intenção de compra, com vendas potenciais de US$ 74,8 bilhões, enquanto a Airbus comercializou 326 unidades por estimados US$ 39,7 bilhões.

O sucesso da Boeing sobre a rival foi determinado pelo novo modelo, o 737 Max 10, que começa a ser entregue em 2020, e emplacou 361 unidades vendidas para 16 clientes no mundo.

Outro fator positivo destacado pelo mercado para a Embraer em Paris foi a supremacia sobre a principal rival, a canadense Bombardier, que vendeu apenas modelos turboélices - 64 unidades, entre 7 pedidos firmes e 57 intenções de compras -, mas nenhum jato CSeries, o principal concorrente dos aviões brasileiros E2.

Embora não venda aviões turboélices para a aviação comercial - a empresa fabrica unidades desse modelo menores, mas para a aviação particular -, a demanda por aeronaves movidas a hélices na feira de Paris chamou a atenção da Embraer. "Como líder de mercado na aviação regional, é nosso dever ver quais oportunidades podem ser apresentadas nos próximos anos. Precisamos ponderar que a tecnologia que está sendo apresentada hoje pelo mercado de turboélices é envelhecida. Mas o desempenho de vendas nos leva a pensar sobre o assunto", disse o vice presidente da Embraer para aviação comercial, John Slattery,

No total, a Paris Air Show deste ano somou 1,224 mil aviões negociados - entre pedidos firmes, opções e memorandos de entendimento -, segundo levantamento da firma de consultoria e mídia especializada Flightglobal, um crescimento de 6,5% sobre a edição anterior do evento.

Os negócios no evento alimentaram o otimismo no setor. A francesa Airbus elevou em 6% a projeção para demanda por novas aeronaves no mundo no horizonte de 20 anos, que somará 34.899 unidades, até 2036, e vendas de US$ 5,3 trilhões. Já a Boeing revisou para cima em 3,6% a previsão de aviões que deverão ser comprados nos próximos 20 anos, projetando 41.030 novas aeronaves a serem encomendadas até 2036, com negócios de US$ 6,1 trilhões.

A Embraer manteve as projeções que tinha até o ano passado, com demanda esperada para 6,4 mil novas unidades em 20 anos, ou compras de US$ 300 bilhões.

As coligadas da Embraer Savis e Bradar anunciaram acordo com a francesa Thales para desenvolver soluções na área de radares para o controle de tráfego aéreo civil e militar. Além disso, a empresa assinou acordo de cooperação com o Centro Aeroespacial Alemão DLR. O anúncio de uma encomenda para o cargueiro militar KC-390 por parte de um cliente internacional segue no radar e foi reforçado, disse a Embraer.