02/12/16 15h03

MAN eleva investimento e foca exportação

Valor Econômico

O presidente mundial da Volkswagen Truck and Bus, holding que controla entre outras a marca MAN, Andreas Renschler, desembarcou ontem, em Brasília, para dar uma intrigante boa notícia ao presidente Michel Temer. Apesar de abatida por uma das mais profundas crises da história do setor de caminhões no país, a filial brasileira prepara-se para fazer o mais alto investimento da sua história.

A decisão, incoerente à primeira vista, esconde, no entanto, uma estratégia da companhia que vai além da expectativa de recuperação econômica local. O grupo pretende aproveitar o conhecimento adquirido no Brasil na produção de veículos de mais baixo custo e robustos para expandir exportações para mercados como o Norte da África e o Oriente Médio.

Cansado de ouvir as queixas de um setor que há meses opera com 25% da sua capacidade, Temer pode ter se surpreendido ao saber que o próximo programa de investimentos do grupo alemão no Brasil totalizará € 420 milhões - em torno de R$ 1,5 bilhão -, o que representa 52% de aumento em relação aos programas de investimento dos últimos quatro quinquênios. Desde 1994, a montadora tem aplicado R$ 1 bilhão a cada quatro anos, o que equivale a € 275 milhões pela conversão segundo a taxa de câmbio do Banco Central de ontem.

"Precisamos aumentar o volume de recursos porque temos planos ousados", disse o presidente da MAN no Brasil, Roberto Cortes. A maior parte das vendas externas da empresa hoje segue para Argentina e México. Se mercados de novos continentes forem incorporados a fatia das exportações poderá, diz o executivo, passar de 15% a 20% de hoje para 30% a 35%.

De olho nessa perspectiva, Cortes e Renschler aproveitaram o encontro com o presidente Temer para pedir ao governo linhas de crédito para exportação, principalmente para países pobres, o alvo da nova estratégia. É o caso de Angola, diz Cortes.

O novo plano de investimento - que abrangerá o período de 2017 a 2021 - será totalmente voltado à renovação dos caminhões e ônibus da marca Volkswagen, uma linha inspirada nas necessidades brasileiras. Em 2009, a marca foi incorporada pela MAN, hoje sob controle da holding Volkswagen Truck and Bus, que administra as três marcas de veículos pesados: a própria Volks, a MAN e a Scania.

Mas o mercado externo não é o único foco. A renovação de produtos também prevê buscar forças para uma acirrada disputa que hoje MAN e Mercedes-Benz travam pela liderança no mercado brasileiro. A MAN foi a líder em 2015, mas este ano a Mercedes passou na frente. No encontro com Temer, os executivos pediram ampliação de recursos para o Finame, a linha de crédito para veículos pesados mais usada hoje no Brasil. Além disso, reiteraram interesse num programa de renovação da frota, um antigo sonho do setor.

As boas novas na MAN contrastam com o quadro que atinge todo o setor e, consequentemente, a própria companhia, hoje, no Brasil. Desde que os primeiros sinais de recessão começaram a aparecer a operação da fábrica em Resende (RJ) começou a ser submetida a uma drástica reestruturação. Segundo Cortes, entre 2012 e este ano, o tamanho da operação encolheu 72%.

O enxugamento foi conseguido por meio de redução no número de empregados (demissões e aposentadorias voluntárias) e redução de jornada. Atualmente, a fábrica inaugurada há 20 anos, funciona em um turno quatro dias por semana. Desde então, o número de funcionários caiu de 6 mil para 3,5 mil. A empresa acaba, ainda, de renovar por mais um ano o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que prevê redução de jornada e compensação salarial com recursos do governo.

A diferença entre o programa de investimentos anunciado ontem e os anteriores é que desta vez a empresa está no seu segundo ano de prejuízo financeiro depois de anos de lucros. Os últimos investimentos foram integralmente realizados com recursos da própria subsidiária brasileira. Agora, no entanto, segundo Cortes, é possível que o grupo recorra a financiamento local, como o BNDES, para complementar a necessidade de recursos.

Renschler mostra-se, porém, animado com as perspectivas de recuperação econômica mesmo que isso leve tempo. "O Brasil sempre foi um mercado chave para a indústria alemã", afirma. O executivo diz que hoje está mais otimista do que há um ano. Ele conta com um bom termômetro para a sua análise.

O executivo é também presidente do comitê sul-americano da Federação das Indústrias Alemãs e costuma frequentar fóruns anuais com associações empresariais do Brasil. No encontro do ano passado, em Joinville (SC), havia muito pessimismo, diz o Renschler. Este ano, os dirigentes empresariais alemães e brasileiros reuniram-se na alemã Weimar, cidade onde morou Goethe. "Desta vez o cenário estava totalmente diferente", afirma.