17/10/16 15h58

Brasileiros desenvolvem equipamento que reduz custos de exame oftalmológico

Agência CT&I

Três pesquisadores brasileiros desenvolveram um equipamento que pode reduzir em até dez vezes o custo dos exames de retina e ampliar o acesso às avaliações oftalmológicas preventivas. Com a apresentação do Smart Retinal Camera (SRC), um retinógrafo portátil, eles ganharam o primeiro lugar na seleção brasileira para participar, nos próximos dias 8 e 9 de novembro, em Berlim, da final do The Falling Walls Lab, evento mundial que reúne as cem melhores ideias de inovação científica em benefício da humanidade.

O produto ainda precisa passar por testes clínicos e a expectativa dos pesquisadores é que todas as etapas para a comercialização no mercado ocorra até o primeiro semestre de 2018. Segundo o físico Diego Lencione, integrante da equipe de desenvolvedores da tecnologia, o aparelho consiste em um conjunto ótico e eletrônico que, acoplado a um smartphone de boa qualidade, permite obter imagens de alta resolução do fundo do olho.

Ele garante que a qualidade é tão boa quanto a captura tradicional, feita por meio de equipamentos mais complexos e que estão disponíveis apenas em clínicas especializadas de oftalmologia. A vantagem é que o procedimento com a miniatura do retinógrafo não precisa ser feito por um profissional especializado e tem um custo menor do que o convencional.

Na avaliação de Lencione, isso facilita, principalmente, a vida de moradores de comunidades carentes que vivem distante dos grandes centros urbanos e não contam com clínicas especializadas. “O resultado das imagens pode ser enviado para a avaliação de um atendimento de excelência em oftalmologia e com isso se obtém um laudo remoto de alto nível técnico”, explicou.

Diagnóstico precoce

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que apontam que 80% dos casos de cegueira poderiam ser evitados por meio de métodos de prevenção e tratamento. Segundo o pesquisador José Augusto Stuchi, também autor do projeto, apesar de existirem mais de 6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual no Brasil, a maioria das cidades (85%) não conta com oftalmologistas.

Além da facilidade de transporte do aparelho para uso em campanhas de saúde em lugares distantes, onde não há retinógrafos, o tamanho reduzido também pode ser útil no atendimento a crianças, acrescentou Stuchi, que é graduado em Engenharia da Computação.

Segundo ele, as crianças costumam ter mais dificuldade em se posicionar corretamente com a testa, queixo e cabeça em frente ao aparelho convencional. “Diagnosticar desde cedo uma doença possibilita que você previna e trate o paciente para que ele não fique cego. Por ano, 500 mil crianças perdem a visão no mundo e 80% de todos os casos de cegueira do planeta são evitáveis”, enfatiza o pesquisador.

Stuchi contou que o projeto surgiu há dois anos. Além dele e do físico Diego Lencione, também participou das pesquisas o eletricista Flavio Vieira. Os três são ex-estudantes da Universidade de São Paulo (USP). O interesse em desenvolver esse tipo de equipamento surgiu a partir do irmão de Diego que tem problemas de visão causados por deslocamento de retina.

Para desenvolver o produto, eles fundaram a startup Phelcom, em março deste ano, e contaram ainda com o financiamento do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).