05/07/17 14h39

Ball se diz bem posicionada e mira novos negócios no Brasil

Valor Econômico

Um ano após concluir a aquisição da Rexam PLC, a norte-americana Ball Corporation, líder global na produção de latas de alumínio para embalagens de bebidas, vive a expectativa em torno de uma recuperação do consumo no mercado brasileiro já a partir deste ano. Presidente da companhia, John Hayes, conta que a compra da antiga concorrente deixou a empresa bem posicionada no Brasil e que o próximo passo, agora, é reforçar sua presença tanto nos negócios tradicionais, de cervejas e refrigerantes, quanto nos segmentos emergentes, principalmente nos mercados de cervejas artesanais e energéticos.

Com a aquisição da Rexam, por US$ 6,1 bilhões, em caixa e ações, a Ball se tornou uma empresa com receitas globais de US$ 11 bilhões. Na América do Sul, o "market share" da multinacional subiu de 18% para 54%.

"Estamos muito bem posicionados para continuar a desenvolver o mercado sul-americano", disse Hayes, em entrevista exclusiva ao Valor.

No Brasil, segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas), a Ball passou a deter 13 das 20 fábricas instaladas no país, o terceiro maior mercado global da norte-americana. Mesmo tendo sido obrigada por órgãos de defesa da concorrência a vender duas de suas plantas - a de Jacareí (SP) e de Alagoinhas (BA) -, a companhia se tornou líder de mercado ao praticamente triplicar o número de unidades operadas. Antes de ser vendida para a norte-americana, a Rexam tinha o maior parque instalado do país, com 11 fábricas.

O atual parque industrial da Ball, segundo Hayes, é suficiente para atender o crescimento do mercado pelos próximos anos. Ele reconhece que a crise política que paira sobre o país lança incertezas sobre o desempenho da economia, mas destaca que os sinais indicam que o mercado brasileiro possa começar a reagir a partir deste ano, depois de cair 4,1% no ano passado.

"Temos sinais positivos de que as vendas possam aumentar ainda este ano, embora nada muito grande. A situação política cria uma incerteza no curto prazo sobre as reformas econômicas que o governo está tocando e que são importantes para a recuperação da economia. Precisamos que a classe média volte a crescer novamente", afirmou.

Segundo o executivo, o retorno da economia pode ser melhor do que o esperado. "As pessoas no Brasil são extremamente resilientes", comenta o presidente da Ball, que no país fornece latinhas para clientes como Coca-Cola, Grupo Petrópolis, Brasil Kirin e Heineken.

Hayes lembrou que, apesar da queda de demanda no ano passado, o mercado nacional vinha crescendo a taxas de cerca de 10% ao ano entre 2006 e 2014 e que o país possui um potencial de crescimento no longo prazo. Segundo ele, na posição de líderes de mercado, buscar novas demandas para os produtos da companhia é "uma obrigação".

"O Brasil é um mercado relevante para a Ball no mundo. A exceção dos últimos dois anos, é um mercado que vinha crescendo muito rápido. O próximo passo, após a integração [dos ativos da Rexam], é continuar a crescer e assegurar que mais latas sejam usadas no mercado existente, como cerveja e refrigerante, mas também crescer em outras categorias como água, energéticos e cervejas artesanais", diz o presidente da Ball.

No caso do mercado de cervejas, Hayes explica que existem hoje oportunidades de penetração tanto entre as grandes marcas, uma vez que 43% da cerveja consumida no país é vendida em latinhas, quanto entre os produtores de cervejas artesanais. "O mercado de cervejas artesanais está crescendo rapidamente ao redor do mundo", avalia o executivo da multinacional de embalagens

No Brasil, o crescimento desse nicho é da ordem de dois dígitos, mas os produtos artesanais ainda respondem por menos de 1% do consumo de cervejas no país. Hayes explica que faz parte da estratégia da empresa se aproximar das linhas de envase, centros que fazem o envasamento de diferentes produtores. E acredita que o Brasil pode replicar o caso de sucesso da produção de cervejas artesanais verificado nos EUA.

"Nos Estados Unidos, as cervejas artesanais já representam 15% da cerveja consumida no país. Há dez anos atrás, zero da cerveja artesanal era consumida em latas. Hoje esse percentual é de 22%, 23%", cita o executivo.