Unicamp chega a 100 contratos com empresas de tecnologia em 2017
Acordos vigentes de licenciamento para companhias dizem respeito à autorização de uso e exploração comercial de tecnologias
Governo do Estado de S.PauloA Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) fechou o ano de 2017 com 100 contratos vigentes de licenciamento de tecnologia para empresas. Os acordos firmados dizem respeito à autorização de uso e exploração comercial dessas tecnologias, nascidas no meio acadêmico, mediante o pagamento de royalties, que, no ano passado, significaram a entrada de R$ 1,34 milhões nos cofres da universidade.
Os números constam no Relatório de Atividades da Agência de Inovação, divulgado nesta terça-feira (24). Ao todo, 153 patentes encontram-se hoje licenciadas para empresas. A quantidade é maior do que o índice de contratos firmados, uma vez que um mesmo contrato pode contemplar mais de uma tecnologia. Atualmente, a Unicamp possui 1.121 patentes vigentes e 223 softwares no portfólio.
“A Unicamp tem um compromisso muito claro que é o de devolver à sociedade o investimento nela feito. Ao passo que as pesquisas acadêmicas geram tecnologias de ponta, que despertam o interesse de empresas para testá-las em escala industrial e transformá-las em produto, temos a certeza de que o nosso compromisso se concretiza, expandindo o impacto da universidade para além do ensino”, afirma o reitor da instituição, Marcelo Knobel.
Além dos licenciamentos, a universidade também trabalha em cooperação com a indústria em projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Em 2017, a Unicamp fechou 49 convênios dessa natureza com empresas. Os investimentos em pesquisa totalizam R$ 64 milhões. A unidade que mais fechou esse tipo de parceria no ano passado foi o Centro de Estudo de Petróleo (Cepetro), com 15 convênios.
“A Agência de Inovação é o interlocutor desses dois mundos, acadêmico e empresarial. E o que vemos, com o passar do tempo, é que essa relação tem se fortalecido. Há um aumento, de ambas as partes, na procura pela Inova Unicamp para firmar essas parcerias”, avalia o diretor-executivo da Inova Unicamp, professor Newton Frateschi.
“Por parte das empresas, observa-se uma maior consciência de que a presença da pesquisa de excelência na universidade gera um ambiente riquíssimo tanto para a formação dos recursos humanos que vão inovar nas empresas como também para constituir um berço ativo de criação de novas tecnologias para a inovação aberta”, acrescenta.
Inovação
Exemplo dessa trajetória de inovação é a Agricef, empresa-filha da Unicamp fundada em 2005, a partir da tese de doutorado de Domingos Guilherme Cerri, sob a orientação do professor Paulo Sérgio Graziano Magalhães, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri).
“Comecei meu doutorado na Unicamp em 2002. O professor Paulo Sérgio Graziano Magalhães tinha um projeto, ainda em estágio muito inicial, na área de agricultura de precisão na cultura da cana-de-açúcar e me deu esse tema como tese”, relembra o ex-aluno.
“A balança foi aperfeiçoada pelo pessoal da Agricef. Junto com a Unicamp, fizemos um aperfeiçoamento na nossa patente e trouxemos novas tecnologias. É um equipamento mais seguro, com vários dispositivos para não estragar célula de carga”, enfatiza o professor Paulo Sérgio Graziano Magalhães.
De 2002 a 2005, ano em que concluiu o doutorado, Domingos Guilherme Cerri trabalhou ativamente na construção do primeiro protótipo do projeto e que culminou, ao final, no depósito de uma patente no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). À época, esse ainda não era um equipamento comercial. Mesmo assim, a Enalta, empresa de automação agrícola, se interessou pela tecnologia. Vale ressaltar que, naquele momento, a Agricef ainda não era nascida.
“Com o interesse da Enalta pela tecnologia, fomos atrás de desenvolvê-la mais e conseguimos apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Eu estava como pesquisador colaborador na Unicamp e comecei a trabalhar em colaboração com a empresa no desenvolvimento desse projeto”, afirma Domingos Guilherme Cerri.
Desenvolvimento
A Enalta tinha expertise em eletrônica, mas esse era um projeto que também necessitava de um desenvolvimento robusto em mecânica. “Foi aí que eu e meus sócios decidimos abrir a Agricef, em 2005. Foi quando entramos na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp) para passar pelo processo de incubação”, conta.
Nesse trabalho a muitas mãos, originou-se a tecnologia “Sistema de Monitoramento de Produtividade da Cana-de-açúcar”, objeto do contrato de licenciamento firmado no ano passado entre a Unicamp e a Agricef.
O sistema desenvolvido utiliza células de carga como instrumento de determinação do fluxo da matéria-prima colhida e é capaz de medir a quantidade de cana que passa pela esteira antes de ser lançada ao veículo de transbordo. Esses dados, juntamente com as informações obtidas por um GPS instalado na colhedora, permitem a elaboração de um mapa digital que representa a superfície de produção para a área colhida.
Além do Brasil, a tecnologia também está sendo usada na Colômbia. Cerca de 40 máquinas já estão em operação no país vizinho. “Como o território de lá é mais limitado para expandir a cultura, eles já estavam há mais tempo focados em aumentar a produtividade por hectare. Aqui no Brasil, esse foi um pensamento que demorou mais a se consolidar, mas que vem ganhando força e ressaltando a importância de tecnologias voltadas à agricultura de precisão”, finaliza Domingos Guilherme Cerri.