Comitê internacional aprova chip brasileiro para o acelerador LHC
Totalmente concebido no Brasil, chip será usado em detectores de partículas do experimento Alice, do Large Hadron Collider
Jornal da USPA produção final do chip Sampa, desenvolvido no Brasil especialmente para o experimento Alice (A Large Ion Collider Experiment, um dos quatro grandes experimentos do LHC – Large Hadron Collider), recebeu parecer positivo de um comitê internacional de revisores. O grupo é composto de especialistas em microeletrônica e a aprovação se deu numa reunião realizada por videoconferência, no último dia 20 de fevereiro. O LHC é o maior acelerador de partículas do mundo, situado na fronteira entre Suíça e França. O protótipo do chip Sampa foi validado após a apresentação de resultados de testes feitos com o chip em diferentes países: Brasil, Cern, Suécia, França, Rússia, EUA e Noruega.
Após essa reunião, chamada de Production Readiness Review (revisão de prontidão para produção), os revisores internacionais emitiram parecer favorável para a imediata produção do chip que irá equipar o experimento Alice, coroando um projeto de cinco anos liderado por pesquisadores da USP vinculados ao Instituto de Física (IF) e à Escola Politécnica (Poli), que contou também com a participação de pesquisadores da Unicamp, e cujos recursos foram financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “O projeto é todo brasileiro, com a participação de um cientista norueguês em uma das partes. A propriedade intelectual do chip é nossa”, comemora o professor Marcelo Gameiro Munhoz, do IF, ressaltando que acompanhará o processo de produção na empresa TSMC, em Taiwan.
O Sampa mostrou-se apto para atender às necessidades dos detectores de partículas do Alice nos quais o chip será utilizado, chamados TPC (Time Projection Chamber) e MCH (Muon Chamber). Após concluídos todos os testes, o passo seguinte é justamente a produção industrial de 88 mil unidades, a maioria das quais será destinada ao Alice.
A vida do Sampa não se restringirá à pesquisa básica. Grupos do Instituto de Física estão criando dispositivos de detecção prontos para integrar o chip assim que ele for produzido. “São detectores de radiação que funcionam com gás e um dos projetos é usá-lo em radiografias com raio X”, antecipa Munhoz, lembrando que o outro projeto mede nêutrons térmicos emitidos por reatores nucleares. Segundo o cientista, o experimento Star do acelerador RHIC, localizado no Laboratório Nacional de Brookhaven, nos EUA, será o primeiro a utilizar o Sampa em um experimento real. Eles já têm algumas unidades instaladas para testar este ano e devem montar todos os chips que utilizarão para o ano que vem.
Velocidade em miniatura
O Sampa concentra 32 canais em uma área aproximada de 0,82 cm². Sua compactação representa economia de custo, de espaço e de energia para o Alice, que aplicará 17 mil unidades do Sampa no TPC, câmara de 5 m comprimento por 5 m de diâmetro, e 40 mil no MCH, dispositivo mais distante das colisões do que o TPC. A maior densidade de canais do Sampa permite-lhe, ocupando menos espaço, cobrir áreas maiores e ser mais veloz do que o sistema atual de dois chips, um para receber sinais analógicos e outro para convertê-los em sinais digitais. O Sampa executa as duas tarefas.
O LHC, o maior acelerador de partículas já construído no mundo, com 27 km de circunferência, é uma colaboração internacional, com acesso aberto para os 10 mil cientistas que nele atuam diretamente, vindos de 100 países, e lotados em quatro experimentos: Alice, Atlas, CMS, LHCb. O equipamento será desligado em 2019 para receber upgrade (atualização) nos quatro experimentos e voltará a funcionar em 2021. Equipes de vários países participam da preparação do upgrade de maneira articulada. A capacidade de produzir um chip compacto de alta complexidade motivou a coordenação do Alice a escolher a equipe brasileira para desenvolver o novo chip de front-end (primeiro de uma série de componentes eletrônicos) do experimento. O projeto do Sampa é coordenado pelos professores Wilhelmus Van Noije, da Poli, e Marcelo Gameiro Munhoz, do IF.