21/07/17 14h06

Startup israelense mira no Brasil de olho no agronegócio da AL

Taranis oferece plataforma de gestão que combina big data e machine learning; empresa recebeu investimento recente de U$ 7,5 milhões

IDG Now

Depois de dedicar nove anos à inteligência militar israelense, o cientista da computação Ofir Schlam resolveu resgatar as suas tradições familiares. A árvore genealógica do empreendedor retoma aos bisavós que deram início a comunidades agrícolas em Israel. "Meus pais cultivaram algodão, trigo e banana por muitos anos, então, toda a minha vida eu sempre tive consciência dos desafios do campo", lembra em entrevista à Computerworld Brasil.

A familiaridade com o tema foi atualizada com o uso de tecnologias emergentes e encontrou sua vocação na startup Taranis, lançada em 2014, e da qual Schlam é CEO. Ao lado dos cofundadores Ayal Karmi (COO) e Eli Bukchin (CTO), Schlam combinou experiências e especialidades em finanças, gerenciamento de produto, meteorologia e desenvolvimento de software para entregar uma plataforma de gestão de análise preditiva.

"Usamos machine learning sobre dados proprietários, que incluem imagens aéreas e de satélites, sensores no campo, previsão do tempo e dados alimentados no aplicativo para prever e prevenir perdas decorrentes de pragas", explica Schlam. Como resultado, a plataforma consegue dar um panorama preciso sobre plantações, algo que permite a redução de custos, aumento da produção e a tomada mais ágil de decisões.

Outro efeito colateral é o incentivo a um tipo de agricultura mais sustentável, tendo em vista que as capacidades analíticas da Taranis permitem minimizar o uso de químicos e pesticidas ao identificar onde e quando são necessários. Atualmente, a plataforma monitora campos para culturas críticas, como soja, milho, trigo, algodão, cana-de-açúcar e batatas.

 

De olho no Brasil

Para a Taranis, o Brasil é um vasto campo a ser explorado, literalmente. A startup anunciou recentemente planos de expansão e vê no agronegócio brasileiro um dos seus principais mercados. Não à toa, instalou na cidade de São Paulo um escritório, montando equipe de vendedores e de atendimento. Georgia Palermo, executiva que passou pela BASF e Monsanto, assumiu a posição de country manager no Brasil. O país vizinho, a Argentina, e o Paraguai, também estão no alvo da startup israelense.

O agronegócio brasileiro tem vivido relativo momento de generosidade. Segundo o IBGE, o setor teve crescimento de 13,4% no primeiro trimestre, em comparação com o trimestre anterior. O segmento foi o principal responsável pela alta de 1% registrada no Produto Interno Bruto.

Na comparação com o primeiro trimestre de 2016, o PIB da agropecuária mostrou alta de 15,2%. O desempenho do setor foi puxado pela supersafra atual, com destaques para a colheita de soja, milho, arroz e fumo, que pesam 50% no valor da produção.

O setor também tem se beneficiado com aumento na concessão de crédito. Os recursos reservados pelo Banco do Brasil para a concessão de crédito ao agronegócio no Plano Safra 2017/2018 serão 30% maiores do que os aplicados na safra anterior. Com maiores investimentos, a adoção de tecnologia tem sido estimulada e apontada como um dos fatores que impulsionaram os bons resultados da vertical. 

Nesse cenário frutífero, por assim dizer, startups têm visto no agronegócio uma nova fonte para experimentação, um aliado para escalar tecnologias e, claro, para rentabilizar negócios. No Brasil, segundo Maikon Schiessl, coordenador do comitê das chamadas agrotechs, da ABStartups, existem 72 startups voltadas para o mercado. A área registrou um crescimento de 70% em 2016 em relação ao ano anterior e a previsão, do comitê, é que esse número triplique até o final de 2017.

Quando se encontrava em estágio inicial, a Taranis recebeu investimento da Acelera Partners, holding de investimentos em startups apoiada pela Microsoft. Em maio deste ano, foi contemplada com um investimento Série A, de U$ 7,5 milhões, em rodada em que participou a Mindset Ventures, também parceira da Microsoft. Com o investimento, a startup israelense colocou o Brasil em sua rota de expansão.

"O Brasil é o nosso mercado mais importante no momento", ressalta o CEO Ofir Schlam. Segundo ele, a startup tropicalizou a solução com feedback de agricultores da Bahia e do Mato Grosso. "Para nós, a combinação de trabalhar com agricultores muito experientes, que são bem financiados, bastante inovadores e, em muitos casos, agricultores jovens que são heavy-users de tecnologia, tornou tudo mais fácil. Combine isso com fazendas muito grandes e você obtém um mercado agrícola líder e queremos ajudá-los a crescer mais", aposta o empreendedor.

Apesar do número de startups focadas no agronegócio terem aumentado e diversificado, Daniel Ibri, CEO da Mindset Ventures, acredita que o setor ainda é carente de soluções tecnológicas. Mas, a tendência é que o cenário mude e agricultores despertem para o uso de novas tecnologias que otimizem a produção.

"Vemos que há um potencial muito grande para a Taranis agregar a esses fazendeiros, cooperativas e assim por diante", ressalta Ibri. "É também uma questão de como esse produtor rural vai aumentar sua produtividade e, consequentemente, melhorar a economia do Brasil, usando uma solução tecnológica de ponta. Acreditamos que isso gera um impacto na cadeia realmente relevante", complementa.

Segundo o CEO da Taranis, a solução é aplicável a qualquer fazenda. Pequenos produtores podem obter a solução através de cooperativas, já propriedades médias e grandes contratam a plataforma de gestão de forma direta. Schlam explica que um dos desafios foi traduzir a complexidade que reside nas novas tecnologias para ferramentas onde qualquer pessoa possa fazer uso.

"Nosso desafio é fazer ferramentas de alta tecnologia úteis para qualquer agricultor e não apenas aos mais experientes em tecnologia. Acreditamos que já estamos lá, pois construímos o sistema de forma que os principais usuários sejam os agricultores e consultores e não engenheiros de computação. Para fazer isso, investimos muito no produto sob o ângulo da experiência do usuário", defende.

Além do Brasil e Argentina, a startup também está presente nos Estados Unidos, Rússia e em seu país de origem, Israel. As metas a curto prazo são ambiciosas e incluem atender um milhão de hectares até o final da próxima estação.