15/09/17 14h14

Shell quer reforçar presença no Brasil em óleo e gás e energia

Valor Econômico

Embora esteja focada na execução de um programa global de venda de ativos de US$ 30 bilhões, com o objetivo de saldar parte das dívidas que tomou para financiar a aquisição da BG, a Shell vê sua presença no Brasil num movimento inverso. Diretora financeira mundial da petroleira anglo-holandesa, Jessica Uhl, relata que a empresa pretende investir ao menos US$ 10 bilhões (R$ 31,5 bilhões) no país até 2021 e que mira novas oportunidades de expandir seus negócios no mercado brasileiro, tanto na exploração e produção de petróleo, quanto no setor de gás natural e geração de energia.

Com a compra da BG, a Shell se tornou, no ano passado, a segunda maior produtora de petróleo do país, atrás apenas da Petrobras. Cerca de 10% da produção mundial da companhia vem do Brasil: são, ao todo, 320 mil barris diários de petróleo, produzidos nos ativos onde a companhia já operava na Bacia de Campos (Parque das Conchas e Bijupirá e Salema), mas sobretudo campos do pré-sal incorporados ao seu portfólio a partir da aquisição da BG, como Lula e Sapinhoá - onde a Shell é sócia minoritária da estatal brasileira.

A compra da petroleira britânica significou, para a Shell, acesso aos principais projetos de produção de óleo e gás no pré-sal brasileiro. A pouco mais de um mês da 2ª e 3ª rodadas de partilha - conhecidas como "leilões do pré-sal" -, marcadas para 27 de outubro, a companhia se prepara para as licitações, de olho em oportunidades de reforçar sua presença no pré-sal.

De US$ 30 bi previstos de desinvestimentos, Shell já concluiu US$ 15 bi, tem US$ 7 bi anunciados e negocia outros U$ 4 bi

Além disso, a companhia também olha oportunidades a partir do programa de desinvestimentos da Petrobras, que prevê levantar US$ 21 bilhões até o fim de 2018 com venda de ativos, mas não há nada concreto.

A depender do sucesso da companhia nos leilões, os investimentos previstos para os próximos anos no Brasil, no valor de US$ 10 bilhões, podem atingir cifras ainda maiores. Jessica destaca que o plano de negócios global da Shell está concentrado em dois grandes segmentos: exploração e produção de óleo e gás e o setor de químicos e petroquímicos. "No Brasil, especificamente, estamos olhando para oportunidades em águas profundas", disse a executiva, em entrevista exclusiva ao Valor, em viagem ao Brasil - o primeiro país que ela escolheu para visitar, desconsiderando viagens para encontrar investidores, desde que assumiu a diretoria financeira em março deste ano.

Além das oportunidades do pré-sal, a Shell tem interesse, também, no mercado brasileiro de gás natural e geração de energia. No mês passado, a companhia obteve da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorização para atuar como comercializadora de energia no mercado brasileiro.

"Estamos trazendo algumas experiências dos Estados Unidos para o Brasil, estamos estruturando novos negócios para aproveitar esse modelo de 'gas to power' [instalação de termelétricas na cabeça do poço]", afirmou Jessica.

Ela disse, ainda, que a empresa procura oportunidades de reforçar sua presença no segmento de gás natural na América do Sul e que avalia a possibilidade de investir em plantas de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL).

"Estamos importando GNL para a América do Sul. É algo que já estamos fazendo. Vamos continuar procurando formas de crescer esse negócio", disse.

Com relação ao setor de gás natural brasileiro, a executiva contou que a companhia estuda diversas oportunidades de desenvolver negócios, como transporte de gás por meio de dutos, movimentação de GNL, entre outros, buscando "a melhor maneira de movimentar a molécula [de gás], o melhor modelo de negócio e as melhores soluções para clientes no mercado".

Sobre o programa de desinvestimentos, a Shell já executou a metade dos US$ 30 bilhões previstos para o triênio 2016-2018. Para além dos US$ 15 bilhões já concluídos, a companhia já tem outros US$ 7 bilhões em desinvestimentos já anunciados e mais de US$ 4 bilhões em negociações em curso, segundo dados da petroleira do segundo trimestre.

Jessica destacou, no entanto, que a empresa não possui "desinvestimentos substanciais" em andamento no Brasil. "Estamos muito felizes com a posição que temos aqui", afirmou. "O Brasil é um dos países mais importantes para a Shell", complementou.

Embora o mercado brasileiro já seja um dos principais destaques operacionais da companhia, o aumento da produção da petroleira no país, proporcionado pela aquisição da BG, ainda não se transformou em lucro. Em 2016, a companhia fechou com prejuízo de R$ 424 milhões, ante R$ 4,32 bilhões em 2015. As receitas líquidas, impactadas pela queda do preço do barril do petróleo, por sua vez, caíram 24,5%, para R$ 1,89 bilhão.

Além da atividade de exploração e produção de óleo e gás, a Shell atua no Brasil nas áreas de lubrificantes - onde também tem planos de aumentar sua participação de mercado - e nos segmentos de distribuição de combustíveis (por meio da Raízen) e de gás canalizado (Comgás, fatia que está à venda).