25/07/17 13h43

São Paulo quer apoio do setor privado e da China para destravar transporte

Valor Econômico

Dos 6,8 mil semáforos existentes nos cruzamentos da cidade de São Paulo, apenas 1,2 mil são monitorados à distância. "Se algum dos 5,6 mil restantes quebra eu só fico sabendo se alguém me avisar", diz o secretário municipal de Mobilidade Transporte de São Paulo, Sérgio Avelleda. Não têm sido poucos os desafios que esse advogado curitibano tem enfrentado desde que assumiu o cargo em janeiro. Ele não imaginava, entretanto, que teria de lidar com questões tão peculiares, como essa de semáforos com tecnologia da década de 70. "Poder público com a estrutura de hoje, cheia de formalismos e controle, e tecnologia são coisas que infelizmente não conseguem caminhar juntas", afirma.

O transporte é um dos focos dos planos de parcerias público-privadas idealizadas pelo prefeito João Doria (PSDB), que solicitou a Avelleda agilidade nos acordos com a iniciativa privada para modernizar semáforos. Nas cidades modernas, com ajuda de câmeras, os semáforos se auto programam de acordo com o tráfego. "A sinalização adequada diminui trânsito, emissões e permite ao investidor privado se valer do espaço para implantar redes de wi-fi ou de conexões que podem, por exemplo, explorar a internet das coisas", diz.

Avelleda está na China para acompanhar Doria numa maratona de encontros com investidores. O secretário carrega na bagagem uma lista de planos que, se derem resultado, injetarão recursos privados em espaços que o paulistano até hoje só conhecia como públicos. Além dos semáforos, há um projeto para a concessão de áreas onde funcionam os maiores terminais de ônibus a interessados a construir, por exemplo, torres de escritórios, hotéis ou shopping centers. Outro plano, inspirado em modelo da Coreia, estender o uso do bilhete único do transporte público para pagar corridas de taxi, cinema e lojas de conveniência.

A secretaria gasta R$ 300 milhões por ano com o bilhete único. "Somos bons para regular, fiscalizar e planejar. Mas só o setor privado é capaz de transformar nosso cartão num porta moeda para outros serviços. Para nós, a simples compra de um software depende de licitação", afirma Avelleda, que já foi presidente do Metrô de São Paulo e também da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.

Mas a maior expectativa do secretário concentra-se no processo de licitação para renovação dos 14,8 mil ônibus urbanos de São Paulo, a maior frota desse tipo de veículo do mundo. Avelleda prevê para até fim de agosto a votação na Câmara de nova lei de renovação da frota. A lei anterior previa que até 2018 a totalidade da frota teria que ser trocada por veículos limpos sem motores movidos a diesel. Como o cronograma não foi cumprido na gestão passada a nova administração não vê outra alternativa a não ser mudar a lei para estabelecer um novo período de troca gradual.

Segundo Avelleda, a nova legislação fixará índices máximos de emissões de poluentes mas não vai impor o tipo de tecnologia. Ou seja, caberá ao operador escolher se quer veículos movidos a biodiesel, híbridos ou elétricos. As montadoras instaladas no Brasil aguardam ansiosamente por essa licitação.

Mas os chineses não querem de ficar fora dessa concorrência. Na viagem à China, Avelleda e Doria vão conhecer fabricantes de ônibus elétricos. "O ganho ambiental é evidente. Mas precisamos saber como têm sido essas experiências e detalhes, como o desgaste das baterias. O sistema de São Paulo não pode sofrer qualquer tipo de oscilação que ameace a oferta", diz o secretário.

Os desafios de Avelleda vão muito além do transporte coletivo, principalmente numa época em que os hábitos de locomoção começam a mudar. Caminhar mais é uma opção. Avelleda conta que a secretaria já começou a aumentar o tempo de travessia para pedestres em algumas faixas com semáforo. "Temos que levar em conta que a população está envelhecendo".

O secretário quer estimular o paulistano a deixar o carro em casa nas distâncias mais curtas. "Hoje 75% dos deslocamentos em automóvel são para distâncias de até 7,5 quilômetros", afirma.

Um transporte coletivo mais regular e confiável pode ajudar. Mas também as ciclovias, uma das bandeiras da gestão anterior, continuarão relevantes, diz. Foi por dever de ofício que Avelleda começou a usar bicicleta em 2010. À época ele era presidente da CPTM e foi um dos idealizadores da construção de uma ciclovia às margens do rio Pinheiros. Os ciclistas que criticavam o projeto lhe disseram que de nada adiantava levar as queixas para o gabinete. Avelleda decidiu, então, inspecionar as obras sobre duas rodas. Tomou gosto, vendeu o carro e é uma bicicleta que o leva ao trabalho diariamente. "Perdi 12 quilos", conta, feliz.

Em breve, os ciclistas paulistanos ganharão placas indicativas de distâncias. Avelleda olha pela janela do prédio da secretaria, na região central, e imagina as mudanças. "Tenho esperança de que o motorista de carro que parar ao lado de uma placa que indica 15 minutos em bicicleta, daqui até o parque Ibirapuera, se anime a pedalar."