07/11/17 12h11

Região entra na era da usina solar

Até maio de 2018 entra em operação complexo fotovoltaico da AES Tietê, em Guaimbê

JC Net

A região de Bauru, igual às regiões central e norte do Estado de São Paulo, tem excelente potencial para geração de energia elétrica a partir do Sol devido ao elevado índice de irradiação solar - média anual na faixa de 5.000 a 5.500 Wh/m2 por dia.

O professor-doutor do curso de engenharia elétrica da Faculdade de Engenharia de Bauru (Unesp) Alceu Ferreira Alves explica que isso coloca o Estado de São Paulo em situação privilegiada dentro do Brasil e do mundo.

A concessionária AES Tietê está diversificando a sua matriz energética e aposta em energia renovável para aumentar a capacidade de geração de energia elétrica. A concessionária fechou um acordo de investimento na instalação do Complexo Solar de Guaimbê (125 quilômetros de Bauru) da ordem de R$ 650 milhões. Com potência de 180 megawatts-pico (MWp). A previsão é entrar em operação até maio do ano que vem. A concessionária controla 12 hidrelétricas no Estado de São Paulo.

O diretor de engenharia, construção e serviços da AES Tietê, Rodrigo D' Elia, declarou ao JC que a escolha de Guaimbê é por estar em região de boa radiação solar. A usina terá capacidade para abastecer o equivalente a 85 mil residências por dia.

Em visita recente ao Centro de Operações de Geração de Energia (Coge) de Bauru, o presidente da AES Brasil, Julian Nebreda, afirmou que o Estado de São Paulo tem potencial para se tornar o maior centro de energia solar do País. A meta, até 2020, é dobrar o tamanho da AES Tietê por meio do investimento em energias renováveis: eólicas e solar. A empresa também tem outro projeto de 90 megawatts em Ouroeste.

As autorizações para implementação do complexo solar de Guaimbê foram outorgadas no 6º Leilão de Energia de Reserva, realizado em 31 de outubro de 2014.

Rodrigo D' Elia explica que a energia contratada por 20 anos ao preço médio de R$ 218,85/MWh (data-base outubro de 2014 indexado pela inflação) é considerado um bom valor de uma geração de energia renovável.

O pesquisador Alceu Alves afirma que a energia hidrelétrica ainda tem custo muito baixo se comparado a todas as outras fontes de energia atualmente utilizadas no Brasil, exceto a energia nuclear, que tem um custo similar à hidrelétrica. "A energia solar apresenta valores na faixa de R$ 200 a R$ 300 por MWh, enquanto a hidrelétrica dos grandes empreendimentos situa-se na faixa dos R$ 150 por MWh. Há uma tendência forte de queda em função do aumento da disponibilidade de fonte solar, prevendo-se valores competitivos em menos de 10 anos", explicou.

Guaimbê terá maior usina regional

Até maio do ano que vem entra em operação o Complexo Solar de Guaimbê (125 quilômetros de Bauru), próximo a Lins, de geração de energia fotovoltaica. O empreendimento é da AES Tietê que já opera no Estado 12 hidrelétricas e está expandido em 6% a sua capacidade instalada em São Paulo. A construção dessa usina teve início com a instalação da infraestrutura na área que vai receber 550 mil painéis solares fixos. Será a maior da região central e uma das maiores do Estado.

A luz solar incide sobre os painéis que geram corrente contínua, que segue para invertores de frequência. Eles transformam a energia corrente contínua em alternada. Em seguida, a energia segue para um transformador, que eleva a tensão dos invertores para a tensão padrão da rede de energia até ser distribuída no sistema elétrico interligado.

O diretor de engenharia, construção e serviços da AES Tietê, Rodrigo D' Elia, ressalta que a vantagem da energia solar em comparação a gerada pelas hidrelétricas é que a solar não depende da quantidade de chuvas, embora em períodos nublados a produção cai. "Mesmo assim essa variação não é tão grande", cita.

A usina solar tem o melhor desempenho durante cerca de seis horas do dia, principalmente por volta de meio-dia, quando a irradiação é mais forte.

O empreendimento de Guaimbê é para gerar 180 megawatts-pico de capacidade instalada. A concessionária fechou o acordo de investimento em 25 de setembro deste ano. O investimento deve chegar aos R$ 650 milhões tendo por base todos os custos envolvidos na implementação e entrada comercial do Complexo Solar.

Conforme a assessoria de imprensa da concessionária, a empresa vai investir até R$ 470 milhões em debêntures a serem emitidas no segundo semestre deste ano a março de 2018. A debênture é um valor mobiliário emitido por sociedades por ações, representativo de dívida, que assegura a seus detentores o direito de crédito contra a companhia emissora. O montante será utilizado para financiar a construção da usina solar fotovoltaica.

A companhia já informou os acionistas da Bolsa de Valores que assinou o contrato com a Cobra Brasil Serviços, Comunicações e Energia S.A.

O Complexo Solar foi outorgado no 8º Leilão de Energia de Reserva (Ler) e tem energia contratada por 20 anos, a preço de R$ 291,75 MWh. "É um bom preço para uma geração de energia renovável e bem competitivo", declarou o diretor.

Os painéis e revertores são importados de uma empresa chinesa especializada no ramo que tem filial no Brasil.

Faculdade de Lins tem a 3ª potência instalada

O câmpus universitário da Fundação Paulista de Tecnologia e Educação de Lins (FPTE) tem a terceira potência instalada de usina solar no Estado e 48ª colocada em número de unidades consumidores instalada de energia fotovoltaica de 459 kW. O índice é com base na pesquisa de investimentos anunciado no Estado de São Paulo da fundação Seade referente a este ano. Entre os municípios paulistas, Campinas apresentou o maior número de conexões, com 16,7% do total do Estado.

O engenheiro eletricista e coordenador do curso de engenharia e automação da FPTE Breno Ortega explica que a produção da unidade solar instalada no campus de Lins é para produção própria de energia à instituição, embora exporte o excedente quando não há tanto consumo no horário de diurno por não ter muita aula, o que garante crédito na conta de energia elétrica, gerando redução de custos.

A usina é composta de 1680 placas fotovoltaicas de 330w cada, totalizando 554.400 whp ocupando área de aproximadamente 6 mil metros quadrados. As placas estão conectadas a 17 invertores, que convertem os 800 volts de corrente contínua fornecidos pelos painéis em 380 volts corrente alternada. Esta tensão é aplicada a um transformador que elevará a tensão para 11.400 volts e repassa a rede de distribuição elétrica. A usina está conectada à rede de concessionária da região. "A produção maior é no horário de pico, por volta do meio-dia. Isso ocorre por causa sazonalidade da região", explica.

Conforme o Atlas Brasileiro de Energia Solar do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) de 2017, o município de Lins atinge média anual 5.470 Wh/m2 por dia, índice só maior de insolação na Bahia, Pernambuco, Ceará e Piauí, atingindo valores de irradiação anual média acima de 6.000 Wh/m2 por dia. "A nossa região o índice de radiaçãoção solar só vai perder para o Nordeste, mas lá o vento é ainda melhor, por isso compensa mais o vento do que o sol para geração de energia elétrica", contou.

A usina solar de Lins funciona desde abril deste ano, quando entrou em operação. "Nos dias em que a produção é baixa, por causa de estar nublado ou quando faz muito calor devido ao consumo de energia por causa de ar condicionado, a energia solar não é suficiente, dependendo do complemento da rede com outra fonte de energia", explica o professor Breno. A ideia do projeto nasceu nas salas de aula da Unilins.

A longo prazo energia solar compensa

Professor-doutor do curso de engenharia elétrica da Faculdade de Engenharia de Bauru (Unesp), pesquisador na área de energia solar, Alceu Ferreira Alves explica que o interior de São Paulo tem excelente potencial para geração de energia elétrica a partir da fonte solar.

Alves cita ainda que oBrasil detém a tecnologia do processo completo, incluindo a purificação e dopagem do silício, que é o material mais utilizado na fabricação dos módulos solares, mas a dependência de equipamentos estrangeiros ocorre com relação aos preços. “Não há no país fábricas de células solares porque devido aos altos custos de produção impostos à indústria nacional, os preços não seriam competitivos com aqueles praticados no mercado mundial”, afirmou.

O custo da energia elétrica por fonte solar fica um pouco mais alto se comparado com a gerada por hidrelétrica. “A energia solar apresenta valores na faixa de R$ 200 a R$ 300 por MWh enquanto a hidrelétrica dos grandes empreendimentos situa-se na faixa dos R$ 150 por MWh. Há uma tendência forte de queda nos preços em função do aumento da disponibilidade de fonte solar, prevendose valores competitivos em menos de 10 anos”, explica. A seguir os principais trechos da entrevista por e-mail.

JC – Professor, a região de Bauru, Lins e Jaú tem potencial para geração de energia solar? O Estado de São Paulo está em que posição no Atlas de Energia Solar?

Alceu Ferreira Alves - Sim, o interior do Estado de São Paulo tem excelente potencial para geração de energia elétrica a partir de fonte solar devido ao elevado índice anual de irradiação solar. De acordo com a segunda edição do Atlas Brasileiro de Energia Solar do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), lançado em agosto de 2017 com informações coletadas durante os últimos 17 anos, o Interior paulista tem uma irradiação média anual na faixa de 5.000 a 5.500 Wh/m2  por dia, notadamente as regiões central e norte. Isso coloca o estado em situação privilegiada dentro do Brasil e do mundo. No Brasil, os locais com maior insolação são Bahia, Pernambuco, Ceará e Piauí, atingindo valores de irradiação anual média acima de 6.000 Wh/m2 por dia. Para efeitos de comparação, a Alemanha, um dos países que mais utilizam energia solar em sua matriz energética, em sua região mais ensolarada este índice não chega a 3.500. Com essa disponibilidade de luz solar e a grande demanda por energia elétrica, considerando ainda que São Paulo é o maior consumidor no país, a exploração hidrelétrica está saturada, e as questões ambientais têm sido objeto de maior preocupação da sociedade, a geração fotovoltaica na nossa região é uma solução bastante interessante, aproximando os geradores dos consumidores, diminuindo custos com transmissão e aproveitando ainda a possibilidade da geração distribuída, nas próprias residências ou empreendimentos comerciais ou industriais.

JC - Qual é a vantagem desse sistema de geração de energia elétrica solar em relação a usinas de energia elétrica (hidrelétrica), biomassa e eólica?

Alceu Alves - A energia eólica, um tipo de geração de eletricidade com inúmeras vantagens, produz ruído durante sua operação e pode interferir na rota de aves migratórias, ainda que esses impactos sejam ‘pequenos’, o potencial eólico para o Interior de São Paulo só acontece

para correntes de ar em alturas acima de 100 metros do solo, causando aumento nos custos da geração. A energia elétrica obtida de fonte hidráulica (hidrelétrica), em termos de custos, é atualmente a mais vantajosa, porém, a instabilidade do regime de chuvas tem diminuído o nível

dos reservatórios, causando incertezas para o mercado consumidor, além do enorme impacto ambiental causado durante a implantação de usinas, sejam elas de grande, médio ou pequeno porte. O aproveitamento de biomassa - no Estado de São Paulo, basicamente o bagaço da

cana-de-açúcar - é obtido a partir da queima, o que gera gases de efeito estufa e polui a atmosfera, além de gerar resíduos sólidos. Nesse contexto, considerando principalmente

a disponibilidade da fonte solar (inesgotável na escala humana de utilização), a energia solar fotovoltaica é a melhor opção para nossa região. Apresenta ainda um forte apelo ambiental, já que essa fonte não produz qualquer tipo de resíduo (sólido, líquido ou gasoso) durante a sua operação e não interfere no meio ambiente durante sua construção; pode ser instalada em locais que não servem para agricultura ou pecuária, podendo ainda ser utilizada de forma distribuída, aproveitando os telhados no que se chama ‘microgeração distribuída’.

JC – O Brasil domina bem essa tecnologia ou ainda é dependente de equipamentos estrangeiros?

Alceu Alves - O Brasil detém a tecnologia do processo completo, incluindo a purificação e dopagem do silício, que é o material mais utilizado na fabricação dos módulos solares. O Brasil, inclusive, possui as maiores reservas desse mineral e desenvolve pesquisas para utilização de novos materiais. A dependência de equipamentos estrangeiros ocorre com relação aos preços. Não há no país fábricas de células solares, porque devido aos altos custos de produção impostos à indústria nacional, os preços não seriam competitivos com aqueles praticados no mercado mundial. Há plantas industriais de empresas multinacionais se instalando no Brasil, mas elas apenas montam os componentes que são produzidos no exterior. Os demais equipamentos que fazem parte do sistema (inversores, controladores de carga, dispositivos de proteção, transformadores, etc.) são fabricados no Brasil, mas também com a maioria dos componentes importados.

JC – O custo é alto para investimento?

Alceu Alves - O investimento para instalação de energia fotovoltaica é alto, porém o retorno é relativamente rápido. Considerando-se os valores de tarifas de energia elétrica praticados no

Brasil atualmente, esse retorno ocorre em um prazo entre 5 e 7 anos para os pequenos

JC – O custo da energia gerado pelo sistema solar é mais em conta do que o gerado por hidrelétrica? Dá para fazer uma comparação?

Alceu Alves - Não. A energia hidrelétrica é uma forma de geração consolidada com domínio total da tecnologia e equipamentos totalmente nacionais, com um custo muito baixo se comparado a todas as outras fontes de energia atualmente utilizadas no Brasil, exceto a energia nuclear que tem um custo similar à hidrelétrica. A energia solar apresenta valores na

faixa de R$ 200 a R$300 por MWh enquanto a hidrelétrica dos grandes empreendimentos

situa-se na faixa dos R$ 150 por MWh. Há uma tendência forte de queda nos preços em função do aumento da disponibilidade de fonte solar, prevendo-se valores competitivos

em menos de 10 anos. É importante salientar que nestes valores não estão computados

os custos ambientais, o que certamente aumentariam muito o preço das energias nuclear e hidrelétrica.

JC – Qual a desvantagem do sistema?

Alceu Alves - A desvantagem que não há como superar é a intermitência. Não há luz do sol durante as noites, mas os consumidores precisam da eletricidade. Como fazer? Na verdade, a energia solar não é suficiente por si só, assim como a eólica que também depende da existência dos ventos para movimentar os aerogeradores. É necessário que haja armazenamento, baterias poderiam ser uma alternativa, mas que vai contra o viés da energia limpa por usar metais pesados e componentes tóxicos em sua fabricação. A solução são as fontes integradas, formando as ‘redes inteligentes’, ou seja, a energia solar e a energia eólica

seriam complementares ao potencial hidrelétrico já instalado, de modo que quando o sol brilhar ou quando os ventos soprarem, a energia elétrica vem dessas fontes, ficando a água armazenada nos reservatórios das usinas hidrelétricas para ser usada quando não houver disponibilidade de luz solar ou ventos.

Você sabia?

A energia solar é limpa, gratuita e segura, pelos menos pelos próximos 6,5 bilhões de anos. Desde dezembro de 2015, o maior avanço nas conexões fotovoltaicas ocorreu no Estado de São Paulo, com um crescimento superior a 12 vezes: passou de 200 para 2.496 unidades