29/09/17 14h03

Piracicaba torna-se referência em pesquisa

Valor Econômico

A intensificação da tecnologia no campo está promovendo a integração de vários setores, como os de máquinas agrícolas, agroquímica e empresas de tecnologia, a fim de buscar soluções conjuntas e oferecer um sistema mais completo aos produtores. "O movimento das agritechs só contribui para agilizar o desenvolvimento da inovação. Isso é muito positivo para a economia do país", diz Francisco Jardim, sócio do SP Ventures, um dos principais fundos de investimento no setor. Dos R$ 105 milhões disponíveis para aporte, 70% estão direcionados ao agronegócio.

Segundo Jardim, o principal gargalo da introdução das novas ferramentas no campo é a curva de adoção. "O processo ainda é lento e há dificuldades em distribuir a tecnologia entre os produtores", diz. A mudança dessa realidade, segundo ele, passa pela criação de hubs de empreendedorismo e inovação em várias partes do país. Alguns já despontaram em Porto Alegre, Viçosa, Lavras e Londrina. Mas, nenhum alcançou, ainda, o porte de Piracicaba, no interior de São Paulo.

Distante 170 km da capital, Piracicaba tem na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz uma das principais referências em pesquisa agrícola do país. Ao redor da universidade nasceu o programa AgTech Valley, batizado de o Vale do Silício do Brasil, com o objetivo de reconhecer, fortalecer e criar uma identificação da sociedade com o ecossistema tecnológico. A cidade sedia organizações de pesquisa, o Parque Tecnológico, referência para o setor de tecnologia na agricultura; o Centro de Tecnologia Canavieira; o Centro de Pesquisa em Energia Nuclear para Agricultura, além de incubadoras e empresas voltadas ao agronegócio dos mais variados portes.

Não é à toa que Piracicaba concentra 19% das startups de agro do país, sendo o maior cluster do setor, de acordo com o I Censo Agtech Startups Brasil. "A Esaqtec, incubadora da Esalq, foi uma das sementes desse ecossistema", diz Sergio Barbosa, gerente executivo. "Criada em 2006, soma 90 projetos apoiados e 12 empresas graduadas. Todas tiveram origem na universidade".

Segundo Barbosa, o que mudou nos últimos anos foi a atenção que o polo chamou tanto de investidores quanto das grandes empresas do setor. "O Brasil tem geração de conhecimento e tecnologia própria em função do ambiente diferenciado de agricultura tropical, isso nos dá vantagem competitiva", afirma. "Daí o interesse das empresas que atuam fora do país em formar parceria, em investir nas inovações oferecidas pelas startups nascidas aqui".

Leonardo Menegatti era estagiário no departamento de máquinas na Esalq, em 1997, quando pilotou a primeira máquina com capacidade de criar um mapa de agricultura de precisão. De lá para cá, abriu uma consultoria na área e, em 2015, a InCeres, responsável pela criação de uma plataforma para agricultura de precisão e manejo tradicional da lavoura. O sistema, que até o final do ano alcançará 5 milhões de hectares no Brasil, permite gerenciar o uso do solo e processar mapas de fertilidade e produtividade em tempo real, via web.

Para Patrick Vilela, diretor executivo da Gênica, voltada ao mercado de controle biológico, uma das vantagens de Piracicaba é a oferta de conhecimento. "Trabalhamos com controle biológico, um ramo que exige muita pesquisa e tecnologia", diz.