20/10/14 15h46

Mortadela de nicho dobra produção para competir com gigantes do setor

Folha de S.Paulo

A fabricante de mortadela Ceratti, que guarda ainda traços do fundador, vai dobrar sua produção em 2015 e expandir a distribuição pelo país em uma disputa com concorrentes bilionárias como BRF e JBS que lembra um embate entre Davi e Golias.

Nos últimos 80 anos, a empresa adotou alta tecnologia tentando conservar um caráter artesanal: mantém estoque de poucas horas nas carnes resfriadas e cozimento da mortadela por até 18 horas em estufas de ar seco.

Produz seu próprio condimento, não usa sobras de carnes, nem aromatizantes, o que faz dela a mais cara mortadela do mercado, um item de nicho que custa o dobro do preço da concorrência.

Mas, a partir deste mês, a Ceratti dá início a uma estratégia ousada com investimento comedido, cerca de R$ 20 milhões, na expansão da fábrica em Vinhedo (SP).

A ação vem na esteira de uma parceria recém-assinada com cooperativas do Paraná para terceirizar parte de sua produção visando expandir o negócio.

As atuais 1.200 toneladas produzidas por mês passarão a 2.500 toneladas em 2015.

O objetivo é levar o faturamento para R$ 400 milhões em 2016 e aumentar as vendas em Estados onde ainda tem presença reduzida, na região Sul e em Minas Gerais. Hoje a distribuição se concentra no eixo São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

Apesar de ter participação de mercado pequena, seu nome é forte e lidera rankings de marca de mortadelas mesmo investindo pouquíssimo em comunicação.

Mas no ano que vem vai direcionar 3% do faturamento para propaganda e colocar até anúncio na televisão, coisa que só ocorreu uma vez na história da empresa, em 1994.

Mario Benedetti, neto do fundador, o imigrante italiano Giovanni Ceratti, preserva a antipatia ao marketing.

"Comprar máquina que faça a mortadela ficar melhor é perfeito. Mas gastar dinheiro num cartaz de ponto de venda? Precisa?", questiona.

Segundo Benedetti, presidente da companhia, ela não investe em marketing porque não gosta de se autoelogiar.

A empresa, que sempre vendeu seus embutidos inteiros ou fatiados na hora, no balcão do ponto de venda, vai levar seus produtos para a gôndola, fatiado de fábrica, como já fazem concorrentes como a Sadia.

"O fatiado no balcão continua. Mas há essa nova opção. O desafio era a tecnologia, mas agora investimos em máquinas para cortar mais fino e manter a qualidade do fatiado na hora", explica ele.

A atual expansão também tem ambições exportadoras. A empresa, que recentemente recebeu certificação para enviar seus produtos à União Europeia, em breve começa a exportar para a França.

O próximo passo da Ceratti deve ser explorar sua vocação distribuidora. "Temos quase 20 mil clientes que são vendedores de alimentos. Somos mais fabricantes ou distribuidores? Hoje, 40% do presunto cru importado vendido no Brasil é nosso. O que mais podemos ter que nossos clientes e seus consumidores precisam?", diz Benedetti.

O herdeiro da família se questiona se a medida significaria um abandono das raízes, mas afirma que a empresa já cogita tomar uma decisão a respeito no próximo projeto de expansão.