30/06/17 14h35

Latino-americanos estão em busca de novos fornecedores

Valor Econômico

Com fábricas em Catanduva e Queluz, no interior paulista, a Enova Foods tem na América Latina o principal endereço de suas exportações de barrinhas de cereais. Para o Uruguai, Paraguai, Peru, Chile e Costa Rica seguem 48% do volume exportado, o equivalente a 3,5% da receita da companhia.

"Nossa primeira remessa aconteceu no final de 2014, para o Uruguai, ainda hoje nosso principal parceiro", afirma André Guedes, diretor de exportação. "Embora trabalhemos para abrir o mercado argentino, que nos últimos anos apresentou consideráveis barreiras de entrada, a proposta é consolidar os cinco mercados onde o produto já é conhecido."

Na visão do executivo, iniciar o processo de exportação pela América Latina tem uma série de vantagens, a começar pela proximidade dos mercados, passando pela similaridade de comportamento de compras e, em boa parte das áreas, pelo alto grau de competitividade do produto brasileiro. A recíproca também vale e a disposição para trocar serviços e produtos é real.

Pelo menos é o que diz o Estudo Índice de Exportação da América Latina UPS Business Monitor 2017, que analisou o comportamento de compra de pequenas e médias empresas de oito países da América Latina - Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, México, Panamá e Peru -, além dos Estados Unidos.

De acordo com o estudo, 47% dos importadores estão à procura de novos fornecedores internacionais, o que sinaliza boas oportunidades para empresas exportadoras encontrarem novos compradores.

Entre os latino-americanos, 21% dos entrevistados pela pesquisa esperam que possíveis fornecedores entrem em contato com eles, o que abre portas para os exportadores proativos apresentarem propostas de negócios bem preparadas e personalizadas via e-mail ou telefone.

Os importadores brasileiros são os mais proativos na busca de novos fornecedores, com apenas 5% indicando que não prospectam novos parceiros e apenas ficam aguardando possíveis interessados. Já os importadores americanos são os menos proativos, com um em cada três informando que não entra em contato com novos fornecedores.

Bater à porta de novos mercados é um exercício que Bruno Pereira, diretor de marketing e segunda geração na direção da MCI, fabricante de equipamentos na área de alimentação, pratica com regularidade.

Com uma produção de 200 máquinas para fabricação de mini salgados por mês, que garantem a fabricação de 1.000 unidades por hora, de 8 gramas a 180 gramas, a indústria exporta para Venezuela, Chile, Colômbia e Paraguai. "O volume ainda está abaixo da nossa capacidade produtiva e da competitividade de nosso produto", afirma Pereira. "Temos uma máquina com custo final na casa dos US$ 4 mil, cerca de R$ 10,9 mil, com peso abaixo de 20 quilos, possível de ser transportada no bagageiro do avião", afirma. "O que restringe o volume negociado é o desembaraço aduaneiro, que é bastante demorado na América Latina, exceção feita ao Chile."

A MCI, que fatura cerca de R$ 30 milhões por ano, espera crescer 50% em 2017, boa parte em decorrência da popularização desse lançamento, que pode ser adotado para fabricantes de salgados e doces e donos de lanchonetes e restaurantes.

Se por um lado os exportadores brasileiros reclamam da demora nos desembaraços e regulamentações praticadas nos países vizinhos, a recíproca também é verdadeira. De acordo com Juan José Bouchon Lyon, quarta geração da família à frente da vinícola chilena Bouchon Family Wines, o Brasil poderia fazer a diferença na pauta de exportações da casa, se não fosse pela alta carga tributária e um certo protecionismo de mercado.

"Estamos no Brasil há cinco anos e ainda não passamos de 30 pontos de venda, entre restaurantes e lojas especializadas", afirma o empresário. "É muito pouco. A meta é chegar a 300 nos próximos três anos, com crescimento de 15% em 2018."

Com uma produção de 1,2 milhão de garrafas, a vinícola espera faturar este ano U$ 3,5 milhões. Dessa receita total, 80% são obtidos com exportação.

Na visão de Daniel Feferbaum, sócio fundador da WNutricional, responsável pela linha Luminus de sucos funcionais e orgânicos, o Chile é, sem dúvida, o país mais aberto para a importação, com menos necessidade de adaptação de produtos e o menos burocratizado.

"No Paraguai, por exemplo, levamos cerca de um ano para regularizar um suco", afirma. "Há casos que quando a liberação sai, o produto já não é mais competitivo no mercado porque já chegaram outras marcas." Com produção de 2 milhões de litros por ano e faturamento de R$ 4 milhões em 2016, a empresa também enfrenta a barreira da ainda limitada cultura de consumo de produtos orgânicos além de nossas fronteiras. "Nesse universo, o Brasil está uns bons passos à frente."