26/04/17 14h32

Investimento direto chega a 4,62% do PIB e gera 'sobra' de US$ 65 bi

Valor Econômico

A combinação de déficits em conta corrente menores do que o esperado com o surpreendente ingresso de investimentos diretos levou o Brasil a ter uma "sobra" US$ 65,4 bilhões em capitais de boa qualidade no mercado de câmbio no período de 12 meses até março, equivalentes a 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB), o maior percentual registrado em uma década.

Os investimentos diretos subiram a US$ 85,939 bilhões nos 12 meses encerrados em março, cifra que corresponde a 4,62% do PIB do período. Já o déficit na conta corrente passou para US$ 20,557 bilhões nos 12 meses até março. Como proporção do PIB, encolheu de 1,31% para 1,1%. A diferença entre estas duas rubricas é o que Banco Central chama de necessidade de financiamento externo, um dos mais importantes indicadores de vulnerabilidade externa.

Essa sobra de recursos de US$ 65,4 bi, além de impacto na apreciação da taxa de câmbio, tem permitido uma melhora no passivo externo do país, com a redução da posição vendida em câmbio dos bancos e a amortização da dívida de empresas privadas. "Historicamente, nunca houve uma diferença entre o IDP e o déficit em conta corrente como essa", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel. "O IDP financia o déficit em mais de quatro vezes."

O Investimento Direto no País (IDP) surpreendeu para cima em março, ao somar US$ 7,109 bilhões, elevando o total de ingressos no primeiro trimestre a US$ 23,943 bilhões. Na avaliação do Banco Central, a melhora do ambiente macroeconômico nos últimos meses, com a queda do risco Brasil, perspectiva de retomada da atividade e queda da inflação, deu um novo impulso ao IDP, que no ano passado havia se mantido resistente, apesar da crise política e da recessão.

Em 2016, os investimentos diretos somaram US$ 78,929 bilhões, equivalentes a 4,39% do PIB. Subiram a US$ 85,939 bilhões nos 12 meses encerrados em março, 4,62% do PIB. Ao mesmo tempo em o IDP ganhava impulso, a alta dos preços de commodities exportadas pelo país ajudou a reduzir o déficit na conta corrente do balanço de pagamentos, passando de US$ 23,530 bilhões em 2016 para US$ 20,557 bilhões nos 12 meses até março.

Isso significa que os investimentos diretos são mais do que suficientes para cobrir o déficit em conta corrente, produzindo uma "sobra" de US$ 65,382 bilhões em capitais externos de boa qualidade que ajuda a melhorar o passivo externo do país.

Com a ajuda desses capitais, os bancos reduziram a sua posição vendida em moeda estrangeira em US$ 6,8 bilhões no primeiro trimestre, ficando menos dependentes de financiamentos de curtíssimo prazo no exterior. Empresas não financeiras diminuíram a sua dívida externa de longo prazo em US$ 3,3 bilhões no mesmo período, para US$ 102 bilhões. A participação dos investimentos diretos no passivo externo do país subiu de 52% em dezembro para 53% em março.

Ao contrário do que aconteceu no passado, quando empréstimos intercompanhias chegaram a responder pela maior parte do IDP, agora o grosso são os aportes no capital propriamente ditos. No primeiro trimestre, o ingresso sob a forma de participações no capital somou US$ 15,190 bilhões, 63% do total. Já as operações entre matrizes e filiais somaram US$ 8,753 bilhões restantes (37%).

Segundo Maciel, o ingresso de IDP mantém-se bastante disseminado entre os diversos setores. No trimestre, chama a atenção o fluxo dirigido a empresas do setor de eletricidade, gás e outros serviços, com US$ 5,524 bilhões. A cifra representa 37% do fluxo de IDP para todo o setor de serviços, que soma US$ 9,672 bilhões, montante quase três vezes maior que o visto no primeiro trimestre de 2016 (US$ 3,423 bilhões).

Em relação à distribuição de IDP na indústria, chama atenção o aumento de participação do segmento de produtos químicos - de US$ 147 milhões entre janeiro e março de 2016 para US$ 1,250 bilhão neste ano, ou 8,4% do total.

Houve forte crescimento, também, nos ingressos para os setores de metalurgia (US$ 397 milhões contra US$ 98 milhões), farmacêutico (US$ 357 milhões contra US$ 56 milhões) e papel e celulose (US$ 367 milhões contra US$ 118 milhões). Mesmo com queda, de US$ 1,066 bilhão para US$ 792 milhões no primeiro trimestre, o setor automotivo segue com elevada representatividade.

Desde 2014 o país passa por um acentuado ajuste nas contas externas. O déficit chegou a passar dos 4,5% do PIB, patamar associado a crises no balanço de pagamentos em momentos anteriores. A recessão e um firme ajuste da taxa de câmbio puxaram o déficit para 3,3% em 2015 e para 1,3% do PIB no fim de 2016.

Em março, foi registrado um superávit em conta corrente de US$ 1,397 bilhão, melhor resultado para meses de março desde 2005. O BC estimava um déficit de US$ 1,5 bilhão e, segundo Maciel, a surpresa foi decorrente do comportamento da balança comercial, que apontou superávit de US$ 6,9 bilhões no mês.

"Março é mais favorável na balança, com vendas de soja. Minério de ferro também tem alta, com aumento de preço. Temos termos de troca favoráveis que têm contribuído para esse desempenho da balança comercial", disse.