19/10/17 11h49

Inpaer adota novo nome e vai produzir aviões homologados

Valor Econômico

Atraída por um mercado hoje totalmente dominado por aviões importados, a Inpaer conclui um plano de negócios que resultou na troca do nome, na entrada em um novo segmento e na expectativa de exportar parte de sua produção. A Indústria Paulista de Partes e Aeronaves (Inpaer) era uma tradicional fabricante de aviões experimentais, modelos de pequeno porte que podem ser comercializados e utilizados sem homologação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac)

Na nova fase, a agora Octans Aircraft vai produzir e vender aviões homologados. O projeto da companhia é ter o primeiro protótipo para voo no primeiro semestre de 2018. O modelo terá estrutura metálica, asa alta, com capacidade para até cinco ocupantes e motorização a pistão. "O avião será versátil, com acabamento e tecnologia de bordo mais sofisticados, para atender à demanda de executivos e empresas, mas estrutura durável e adaptada para pistas curtas e de infraestrutura mais rudimentar, como as usadas pelos fazendeiros", disse o presidente da Octans, Milton Roberto Pereira, também um dos três sócios da companhia.

A indústria aeronáutica brasileira já teve diversas iniciativas na fabricação de aviões de pequeno porte, como a Companhia Aeronáutica Paulista, a Companhia Nacional de Navegação Aérea, a Fábrica do Galeão e a Sociedade Aeronáutica Neiva, que produziram modelos como o Paulistinha CAP-4, o Aerotec Uirapuru e os Neiva Universal. Essa onda foi interrompida nos anos 2000 por causa da maior concorrência externa e pelos custos impostos pela homologação.

"O Brasil é o terceiro mercado mundial na aviação geral", diz Pereira, citando as 24 mil aeronaves registradas no país, ante 200 mil nos Estados Unidos e as 28 mil no Canadá. "Mas nossa frota de novas pequenas aeronaves é totalmente composta por modelos importados", disse o executivo, citando a participação de modelos das americana Cessna e Cirrus, e da austríaca Diamond.

O presidente da Octans Aircraft diz que esse é o momento de trocar o segmento de aeronaves experimentais pelo de aeronaves homologadas porque há uma demanda crescente por modelos de menor porte que sejam homologados. "Além disso queremos atuar no mercado internacional", disse Pereira.

Fundada há 15 anos, a então Inpaer produziu 240 aeronaves experimentais - modelos com capacidade para 2 a 4 ocupantes e com preços de US$ 85 mil a US$ 130 mil. Na aviação experimental, as aeronaves não precisam ter a homologação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para voar. Por outro lado, há restrições para esses modelos, que não podem, por exemplo, sobrevoar áreas densamente povoadas ou aeroportos de tráfego aéreo regular.

O Brasil é o terceiro mercado mundial na aviação geral, atrás dos Estados Unidos e do Canadá

Esses modelos são usados principalmente para fins esportivos, de treinamento, como hobby, ou em áreas rurais. Segundo a agência reguladora, cerca de 25% das mais de 20 mil aeronaves registradas no país são experimentais. Apesar das restrições, há casos de aeronaves experimentais que são usadas em regiões urbanas.

Para mudar a área de atuação, a agora Octans investiu US$ 24 milhões desde 2013, quando a companhia decidiu implementar o novo plano de negócios. "Praticamente todo o investimento foi capital próprio. Apenas cerca de 5% do programa foi por meio de dívida bancária", disse o presidente da Octans.

Os recursos foram usados em tecnologia, com desenvolvimento próprio e contratação de processos e softwares, pessoal e infraestrutura. A unidade da empresa, em São João da Boa Vista (interior de SP), foi ampliada de 6 mil metros quadrados para 22,5 mil metros quadrados, onde trabalham hoje 85 pessoas, sendo 30 engenheiros.

A Octans também aderiu em 2015 ao Programa de Fomento à Certificação de Projetos de Aeronaves de Pequeno Porte (iBR2020), criado pela Anac para aprimorar a capacidade da indústria aeronáutica nacional para desenvolver projetos de aeronaves de pequeno porte que tenham mais condições de sucesso quando submetidos a uma certificação desse tipo.

O iBR2020 conta com uma rede de parceiros, que inclui Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Universidade de São Paulo (USP).

"Nosso projeto de longo prazo, até 2030, inclui a meta de chegarmos a outros mercados", disse o presidente da empresa, citando os Estados Unidos, Canadá e a China como países em que a empresa tem planos de vender aviões. Segundo ele, o BNDES seria uma opção para levantar recursos na medida em que as próximas etapas do projeto da companhia forem sendo implementadas.