10/07/17 13h28

Indústrias investem R$ 110 milhões em 2016 em reciclagem de pneus

Valor Econômico

Os pneus ganharam fama de vilões no cenário de resíduos sólidos jogados a céu aberto. Mas as indústrias do setor têm trabalhado para combater esse crime ambiental. No ano passado, o setor investiu R$ 110 milhões para recolher e reciclar 457,5 mil toneladas de pneus, equivalentes a 91 milhões de unidades.

“Nós coletamos mais de 100% do que todos os fabricantes de pneus produzem”, diz Klaus Curt, presidente da Reciclanip, o braço de reciclagem da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip).  O índice supera 100% porque são coletados também os pneus importados. No último relatório do Ibama, em 2016, ano-base 2015, os fabricantes cumpriram 101,17% de sua meta de recolhimento, superando-a, enquanto os importadores atingiram 84,72%. A Reciclanip representa 11 empresas multinacionais e de médio porte e se responsabiliza por todo o processo.

No relatório, o Ibama informa que cinco empresas importadoras de pneus novos foram autuadas em 2015, num total de R$ 25 milhões em multas aplicadas. Dois importadores tiveram suas atividades de importação suspensas, por serem reincidentes na infração ambiental de descumprimento da meta de destinação. Além disso, nove empresas destinadoras de pneus inservíveis sofreram vistoria para a averiguação de seus dados declarados.

“Já brigamos muito, apanhamos muito e resolvemos muitos problemas”, diz Curt. “Buscamos sempre atender à meta de recolhimento ligada à produção e colocada pelo Ibama.” Isso significa que se o setor produz 300 mil toneladas de pneus, desconta-se o volume para exportação, 30% de rebarba e o que é enviado para montadora. Não há resíduo, isso só aparece na troca de pneus, diz ele.

O pneu não é valorizado como a lata de alumínio — 92% das latinhas são recicladas —, mas tem havido avanços. A Reciclanip tem trabalhado para que a cadeia de valor funcione sem o subsídio da indústria, que está presente no transporte dos pneus usados. A organização gasta R$ 60 milhões em frete por ano para transportar pneu inservível de mais de mil pontos de coleta no Brasil.

Como o pneu coletado não volta a ser matéria-prima para o mesmo tipo de produto, o transporte o direciona aos pontos onde será transformado. Curt disse que é difícil desvulcanizar a borracha, o aço e o tecido. O processo de desconstrução está em estudo em todo o mundo, pois as indústrias têm interesse em ter essa borracha de volta para virar um novo pneu. Mas não há prazo e cada fabricante se debruça sobre o desenvolvimento de sua própria tecnologia.

Enquanto isso, o pneu passa por um processo industrial, é triturado e granulado. Parte do material vira revestimento para quadras de futebol society e outra parte é transformada em pó para asfalto. Segundo Curt, a Ecovias montou uma usina e começou a produzir esse tipo de asfalto. A pista mais antiga de automóvel com esse material já tem 12 anos sem retificação e foi homologada no início de 2017 para mais seis anos, diz ele.

Empresas do setor criaram a Indap, responsável pela parte comercial da contratação do processo de trituração e da venda do chip — que é o pedaço do pneu triturado que vai para os cimenteiros — e certificação das importadoras. Curt disse que há espaço para melhorar o produto final e reduzir o subsídio.