10/05/17 14h38

Governo cria grupo para formular nova política com foco na Indústria 4.0

Valor Econômico

O governo terá, no segundo semestre, uma política industrial voltada especificamente à manufatura avançada. Um grupo de trabalho interministerial ficará encarregado de propor, em até 150 dias, uma "estratégia nacional" para a indústria 4.0 - termo que designa a aplicação de tecnologias como inteligência artificial, impressões 3D e internet das coisas dentro da operação industrial - o chamado chão de fábrica.

Trata-se de um debate ao qual o Brasil chega relativamente tarde. A quarta revolução industrial, marcada pelo uso crescente dessas tecnologias, tem ocupado cada vez mais espaço nas discussões internacionais e foi o tema principal do Fórum de Davos em 2016. Um estudo recente da consultoria McKinsey, por exemplo, sustenta que metade dos empregos tal como existem hoje vão simplesmente desaparecer até 2035.

"Estamos muito atrasados em relação a outros países", afirmou ontem o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), Marcos Pereira, que fez balanço de um ano à frente da pasta. A portaria criando o grupo sobre indústria 4.0 será publicada nos próximos dias. Além do Mdic, terá representantes do Ministério da Fazenda, do Ministério do Trabalho, da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos, do BNDES, Finep e outros órgãos. Haverá assentos ainda do setor privado - Confederação Nacional da Indústria, Senai e Sebrae - e também do mundo acadêmico.

"À medida que trazemos tecnologias, há novas exigências de mão de obra e perspectiva de perda de empregos", afirmou o ministro. "Não podemos fugir da nossa realidade, mas saber como a indústria 4.0 pode avançar no Brasil."

Pereira estimou que o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer neste ano mais do que prevê atualmente a equipe econômica. Ele afirmou a jornalistas que sua projeção "pessoal" para o crescimento da economia brasileira em 2017 é de 0,8% a 1%. Em sua última revisão, feita em março, o Ministério da Fazenda reduziu sua estimativa para 0,5%.

Ao traçar um panorama das perspectivas de recuperação do emprego, Pereira avaliou que a melhoria do mercado de trabalho ocorrerá apenas com a aprovação das reformas.

"Começaremos a retomar o emprego quando efetivamente concluirmos as reformas. Há uma capacidade ociosa na indústria. No primeiro trimestre, houve uma singela retomada do setor [crescimento de 0,6% sobre o mesmo período em 2016]. À medida que essa capacidade ociosa for preenchida, com as empresas voltando à jornada plena, podem depois retomar as contratações".

Segundo ele, as reformas são indispensáveis para dar mais confiança aos investidores nacionais e estrangeiros. Ele contou ter recebido recentemente o presidente da multinacional chinesa Huawei, que reclamou exatamente da quantidade de funcionários no Brasil para lidar com trâmites administrativos. "O número de processos trabalhistas, a insegurança jurídica, realmente são obstáculos".