31/07/17 14h51

Feira moderna

Valor Econômico

Empresários que prestam serviços para o setor de feiras de negócios estão investindo em ofertas cada vez mais inovadoras para ganhar mercado. Os contratos incluem aplicativos que orientam os participantes entre os estandes, reservas de hotel para grupos com atendimento on-line e ações de compensação ambiental para grandes eventos. A estratégia visa ganhar parte dos R$ 16,3 bilhões que o setor movimenta apenas em São Paulo, Estado que concentra o maior número de feiras do país, de acordo com pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e da União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe). São 2.009 eventos no Brasil, ao ano, sendo a maior parte nas regiões Sudeste (834) e Sul (681).

Segundo especialistas, mais de 90% dos fornecedores desse mercado são de porte reduzido, que também enfrentam reflexos da crise econômica. "Houve uma diminuição de até 25% no número de visitantes nas feiras e uma queda de 8% na quantidade de expositores nos dois últimos anos", analisa Armando Campos Mello, presidente executivo da Ubrafe.

A boa notícia é que novos eventos surgem em áreas como alimentação saudável, produtos para pets e games. Este ano, pela primeira vez, serão organizadas a Expo Paisagismo Brasil e a UrbanTec, sobre desenvolvimento urbano sustentável, em agosto.

Em atividade há dois anos, a Evnts identificou na crise uma oportunidade para crescer no nicho de feiras. "Percebemos que os organizadores queriam reduzir custos e tempo para realizar os eventos", lembra o CEO Alexandre Rodrigues. Com isso, lançou uma ferramenta on-line de reserva de hotéis, com foco exclusivo nessa clientela. Para os promotores, a facilidade oferece controle em tempo real das reservas, facilita processos ligados à logística de transportes e ajuda na captação de apoios e patrocínios.

Com 18 funcionários, a empresa faturou R$ 2,5 milhões em 2016 e prevê um salto de até R$ 35 milhões em 2017. Quarenta por cento do faturamento vêm das feiras. "Desde abril de 2015, crescemos mais de 30% ao mês", explica. Foram 30 eventos fechados em 2016 e serão cerca de 60, em 2017. A Campus Party e a HSM Expo estão na lista. "Já temos mais de 20 datas agendadas para 2018."

A estratégia da Evnts foi começar com pequenos congressos, principalmente fora do eixo Rio-São Paulo. Até 2018, o plano é entrar em novos segmentos, como seminários esportivos, e iniciar a internacionalização de contratos, a partir da Europa. Recentemente, a companhia recebeu um aporte de R$ 1 milhão, de investidores anjos, para apoiar a expansão. Em 2017, investirá cerca de R$ 1,5 milhão para fortalecer as equipes de operações e atendimento ao cliente.

Marco Basso, presidente da Informa Exhibitions, uma das gigantes do setor de exposições, afirma que as feiras de negócios estão sendo obrigadas a se reinventar para surfar numa esperada onda de crescimento econômico. "A tendência é que as marcas expositoras sejam cada vez mais seletivas nos investimentos, em busca de uma melhor relação custo-benefício."

A Informa faz mais de 20 feiras setoriais ao ano, como a Agrishow, de tecnologia agrícola, considerada a maior do país; e a ABF Expo, de franquias. Nos últimos quatro anos, investiu no Brasil cerca de R$ 400 milhões em aquisições de eventos e marcas no segmento. Em média, contrata 35 pequenas e médias empresas por evento, entre prestadores de serviços de tecnologia, de credenciamento de visitantes e construção de estandes. Mas há outros nichos que podem ser mais bem explorados, segundo Basso. "Há novos aplicativos para a localização de ambulâncias nos pavilhões e controle de acesso via chip, ao invés da leitura de códigos de barra dos crachás."

Leandro Henrique, diretor da BR+10, preferiu apostar na gestão ambiental de grandes eventos. A empresa, que trabalha para a ABF Expo desde 2008, organiza a coleta seletiva de resíduos, em parceria com cooperativas de reciclagem, e calcula a compensação de emissões atmosféricas decorrentes do transporte de público, uso da energia elétrica e geração de lixo. "Com esses valores, orientamos o promotor do evento sobre a melhor forma de compensação, como o plantio de árvores", explica.

A BR+10 também criou uma premiação que destaca o estande mais sustentável nas feiras. Avalia o processo de montagem, de transporte e o uso de materiais dos expositores. Tanto a marca expositora quanto a montadora ganham o reconhecimento. Com essas iniciativas, a empresa, que já garante 10% do faturamento em feiras de negócios, garante que pode reduzir em até 40% os custos dos promotores. Em 2018, a ideia é dobrar o faturamento no setor. A companhia faturou R$ 1,2 milhão em 2016.

Outra concorrente, a mobLee, com sede em Florianópolis (SC), se especializou em aplicativos customizados. Além de substituir toda a papelada que os eventos produzem, como mapas de estandes e folhetos de expositores, a novidade promete aumentar o engajamento dos congressistas por meio de uma rede social privada, onde é possível trocar mensagens e agendar reuniões.

"No ano passado, crescemos mais de 120% no número de eventos que utilizam a plataforma, em comparação ao ano anterior", diz o CEO André Rodrigues. Em abril, a empresa recebeu um aporte de R$ 3 milhões da gestora de fundos de investimento Bzplan, que deve ser usado no aprimoramento de sistemas e no time de vendas. No último ano, cerca de 30% do faturamento já foram obtidos com feiras, como a Hospitalar e a Feicon Batimat-Salão Internacional da Construção. Foram 42 eventos em 2016 e a estimativa para 2017 é assinar 60 contratos. O quadro de funcionários passou de 14 pessoas, no final do ano passado, para 36. Deve encerrar o ano com 51 colaboradores.