31/05/17 14h11

Fapesp e Finep dão suporte a projetos na área espacial

Valor Econômico

Neste mês, foi lançado o primeiro satélite geoestacionário controlado inteiramente pelo governo brasileiro. Com 5,7 toneladas, o equipamento foi construído pela companhia francesa Thales Alenia Space em parceria com o Brasil - envolvendo pesquisadores e empresas locais e investimento de R$ 2,8 bilhões.

O satélite foi lançado do Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa, conduzido pelo foguete Ariane Cinco. O lançamento chamou a atenção de pesquisadores e especialistas, para quem o setor espacial brasileiro tem avançado, ainda que de forma incipiente mediante as dimensões continentais do país e a relevância de sua economia.

O que muita gente não sabe é que nessa área, as micro, pequenas e médias empresas têm tido papel importante no desenvolvimento de produtos e tecnologias. Recentemente, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empreendedores se preparam para trabalhar em iniciativas que deverão ampliar a capacidade espacial do Brasil.

Na seleção pública do programa de subvenção - aplicação de recursos públicos não reembolsáveis - foram aprovados 16 projetos de 11 empresas. Fizeram parte do processo, companhias sediadas no Estado de São Paulo com faturamento anual de até R$ 90 milhões. Segundo Sérgio Queiroz, professor da Unicamp e membro da coordenação de pesquisa para inovação da Fapesp, essas companhias terão que responder aos desafios tecnológicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Entre eles, instrumentos embarcados na missão do satélite Equars para estudo da atmosfera na região equatorial; itens de eletrônica e óptica espacial; sistemas de propulsão e suprimento de energia. "A subvenção é importante porque cobre o risco da pesquisa tecnológica, que as empresas sozinhas teriam muita dificuldade para assumir ou talvez nem a fizessem", diz Queiroz. O edital tinha R$ 25 milhões previstos - 50% provenientes da Fapesp e a outra metade da Finep. Contudo, foram aprovadas propostas no valor de R$ 16,2 milhões, em função da análise de mérito das propostas apresentadas.

A Fibraforte, com sede em São José dos Campos, teve quatro projetos aprovados. "Esses projetos resultarão em um motor foguete de 400 newtons", afirma Leonardo Lara Tajiri, engenheiro da empresa. Esse tipo de foguete (propulsor bipropelente) tem aplicação no segmento de satélites geoestacionários. Após o lançamento, o satélite precisa de um impulso adicional para chegar à órbita operacional. Esse propulsor fica acoplado ao satélite para fazer tal ajuste.

Segundo José Nivaldo Hinckel, também engenheiro da Fibraforte, o objetivo da companhia é se habilitar como fornecedora desse motor foguete quando o Brasil decidir ou se tornar apto a produzir satélites geoestacionários com grande conteúdo nacional.

"Mesmo se o Brasil fizer mais satélites em parceria com outros países, queremos estar preparados para fornecer essa tecnologia", diz Hinckel. Em 2012, a Fibraforte foi uma das selecionadas pela Finep para atuar em pesquisas relacionadas ao satélite recém-lançado na Guiana Francesa. "Fizemos parte do programa de transferência de tecnologia em sistemas monopropelentes de satélite (motores foguete) de órbita baixa", diz Tajiri.

Em São Carlos, a Opto, do ramo de optoeletrônica, foi criada em 1986 por um grupo de pesquisadores do campus da USP na cidade. Recentemente, a empresa foi dividida em duas, sendo a Opto Eletrônica com foco em produtos para aplicações industriais e médicas, e a Opto Space & Defense, cujo controle foi adquirido no início deste ano pela Akaer, de soluções tecnológicas aeroespaciais. As mudanças visam ampliar a atuação nesse setor. Hoje, a companhia conta com 55 colaboradores. "O país tem grandes desafios nas áreas de monitoramento ambiental e no controle de fronteiras. O Brasil compra imagens de satélites de outros países para suprir a necessidade atual", destaca Alexandre Lourenço Soares, gerente de projetos da Opto Space & Defense.

Três projetos da companhia ligados à captura de imagens por satélites foram selecionados no edital Fapesp/Finep para o atendimento ao INPE. Um deles é o sistema óptico reflexivo tipo TMA (Three Mirror Anastigmat), uma tecnologia que incrementa a resolução das imagens e amplia o campo de visada. O outro é um sistema que capta imagens de um mesmo ponto em perspectivas distintas, gerando assim dados tridimensionais da região observada. O terceiro é para o desenvolvimento de um sistema de ajuste de foco por controle de temperatura, o que promete ser mais funcional e eficaz.