10/12/13 10h48

Campinas espera por reator nuclear em Iperó

Construção de complexo nuclear vai ajudar a cidade, e o País, em diagnósticos e tratamentos

Correio Popular - Campinas

A construção de um reator nuclear em Iperó (a 115 km de Campinas) tornará o País autossuficiente na produção de radiofármacos, substâncias radioativas empregadas em tratamentos de diversos tipos de câncer e em diagnósticos médicos por imagem.

Somente em Campinas, o equipamento deve garantir a realização sem interrupção por falta de matéria prima de pelo menos 33 mil procedimentos por ano, na rede pública e privada.

Orçado em US$ 550 milhões, com investimentos do governo federal, o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) estará pronto no final de 2018 e deve aumentar também o número de exames de imagens sofisticados feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Uma das principais substâncias produzidas pelo equipamento será o radioisótopo molibdênio-99, que hoje é 100% importado e utilizado em nove de dez procedimentos de medicina nuclear.

Um simpósio no auditório do Instituto de Física na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) nesta terça-feira (10), às 9h, vai explicar os principais pontos do projeto. O parque científico onde será instalado o reator terá área de 2 milhões de metros quadrados. A construção do reator foi estabelecida como meta do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação da União, do governo federal.

Hoje, União e clínicas particulares compram do Canadá, Holanda, Bélgica, Argentina e África do Sul o radioisótopo para realizar exames essenciais no diagnóstico de doenças como Alzheimer, males cardiovasculares e metástases cancerígenas, a US$ 10 milhões por ano.

O coordenador técnico do empreendimento e diretor da Comissão Nacional de Energia Nuclear, José Augusto Perrotta, explicou que o molibdênio-99 dá origem ao tecnécio-99, que é utilizado em 1,5 milhão de procedimentos pelo País a cada ano.

“Temos quatro reatores nucleares no Brasil, mas apenas um, no Ipen (Instito de Pesquisas Energéticas Nucleares), em São Paulo, produz o tecnécio. Mas em quantidades insignificantes. Nossa intenção é que o novo reator produza para toda a demanda de exames nacionais, tanto da rede pública quanto particular”, explicou Perrotta.

Além do molibdênio-99, o reator vai produzir outras substâncias utilizadas no tratamento de cânceres, como o iodo-131 e samário-153. O objetivo é garantir o abastecimento de todas as regiões do País com os isótopos e, futuramente, baratear o procedimento em clínicas particulares. “Será algo natural, uma vez que não vamos mais sofrer com as oscilações do mercado internacional.”

Segundo o diretor, cidades do Interior do Brasil são as que têm mais dificuldade em obter a substância, já que, depois de produzida, ela tem validade de apenas uma semana. Como muitas vezes o molibdênio precisa viajar dias até chegar aos hospitais, tem pouco tempo para ser utilizado.

O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Celso Darío, afirmou que a Argentina, por exemplo, oferece proporcionalmente três vezes mais exames que utilizam o molibdênio-99 do que o Brasil.

Um dos principais é a cintilografia, que no Norte e Nordeste é feita somente em hospitais públicos de capitais e que é essencial para detectar demências cerebrais, cânceres ortopédicos e renais, entre outros. “O exame existe na tabela SUS, mas em alguns pontos.

A produção no Brasil deve ajudar na logística do isótopo até municípios menores, que hoje não fazem o procedimento pelo SUS. A consequência mais benéfica será a popularização dos exames”, disse. Campinas

A médica Mariana da Cunha Lopes de Lima realiza de 20 a 25 exames com o tecnécio, extraído do molibdênio-99, por dia, na clínica Medicina Nuclear Campinas. Ela afirmou que em 2008, o hospital ficou um mês sem conseguir fazer procedimentos por causa de um problema no reator nuclear canadense. “Temos muitos pacientes graves que dependem da substância para tratamento. A produção nacional significa independência”, disse.