05/05/17 14h46

Brasileira Farmabase chega à Argentina

Valor Econômico

Em um mercado cada vez mais dominado por multinacionais estrangeiras, a indústria veterinária paulista Farmabase quer fugir do script. Em vez de ser incorporada por algum player interessado em avançar no Brasil, país-chave quando o assunto é a cadeia produtiva de carnes, a companhia mira o exterior.

O movimento, inédito para uma empresa de capital nacional, começou a tomar forma em março, com a compra da indústria veterinária argentina Cevasa. Com isso, a Farmabase se tornou a primeira indústria brasileira a ter fábrica fora do país.

Ao Valor, os irmãos Alexandre e Guilherme Machado, sócios da Farmabase, ressaltaram que a trajetória rumo ao exterior começou justamente com a recusa em ser vendida.

Em 2009, a companhia foi alvo de uma investida da americana Alpharma (que hoje faz parte da Zoetis). Rejeitada, a oferta resultou no ano seguinte em uma alteração societária. Dos quatro sócios fundadores, restou apenas Paulo Machado, que hoje preside a Farmabase. "Alguns sócios queriam vender. Meu pai ficou e comprou a participação dos sócios", disse Guilherme.

Sem os antigos sócios, Paulo Machado recrutou os dois filhos para a empresa. Veterinário, Alexandre trabalhava na antiga Sadia. Administrador de empresas com passagens pelos fundos de investimentos GP e Carlyle, Guilherme se juntaria à Farmabase em 2012, após concluir MBA nos EUA. Juntos, os irmãos lideram as operações da empresa no Brasil e, desde março, também no exterior.

"De uns tempos para cá, temos percebido que crescer no mercado brasileiro virou um desafio, porque já conseguimos uma posição muito relevante aqui", afirmou Guilherme, que é vice-presidente financeiro da Farmabase. Atualmente, a empresa é a sexta maior do segmento de saúde animal no Brasil, onde faturou cerca de R$ 350 milhões em 2016. As multinacionais MSD, da americana Merck, e a também americana Zoetis lideram esse mercado no país.

Com atuação concentrada na fabricação de produtos para aves e suínos - sobretudo medicamentos que são misturados às rações -, a Farmabase disputa a liderança nas vendas nas duas áreas com a americana Elanco, braço da farmacêutica Eli Lilly. Em suínos, a companhia detém fatia de 27% do mercado brasileiro, segundo Alexandre Machado, que é vice-presidente de operações.

Se já se vê consolidada nas áreas de aves e suínos, a Farmabase admite não ter condições de competir com as rivais nos segmentos de bovinos e animais de companhia (cães e gatos, principalmente). Tanto é assim que, em 2010, a empresa decidiu descontinuar uma linha de produtos de bovinos "que não vinha dando certo", conforme Guilherme Machado. Na mesma época, vendeu a linha de itens para animais de companhia. "Focamos no que sabemos fazer", disse ele.

Carro-chefe da indústria veterinária no Brasil, o mercado de bovinos demanda grandes investimentos, dentre os quais na produção de vacinas contra febre aftosa. No segmento de animais de companhia, as múltis têm uma vantagem de atuar em países onde os gastos com cães e gatos são bem maiores do que no Brasil, o que lhes dá escala.

Nesse cenário, avançar no exterior foi a alternativa escolhida. Recém-adquirida pela Farmabase, a argentina Cevasa é encarada como a porta de entrada da brasileira na Ásia. Com uma fábrica em Pilar, na Província de Buenos Aires, a Cevasa obtém 50% de seu faturamento fora da Argentina - em 2016, a receita total da empresa foi de US$ 12 milhões. Na Farmabase, as exportações representaram somente 1% em 2016.

A avaliação do vice-presidente de operações da Farmabase é que a rede de distribuição da Cevasa ajudará a impulsionar as vendas externas da empresa brasileira, além de dar "know-how" para os registros de seus medicamentos fora do Brasil. "As vendas da Cevasa estão espalhadas por 50 países", disse Alexandre, destacando o potencial de crescimento dos embarques para Filipinas, Tailândia e Indonésia.

"Na Tailândia, estamos engatinhando. Estamos conhecendo os distribuidores", afirmou Guilherme. Segundo o sócio da Farmabase, o registro de produtos na Tailândia demora, em média, três anos.