17/08/17 14h34

Brasil é o país com maior número de startups financeiras na América Latina

Agência ABPTI

Nos últimos dois anos a América Latina tem registrado um acelerado surgimento de startups voltadas para serviços financeiros, chamadas de fintech, o que tem sinalizado uma profunda mudança nos mercados financeiros e um desafio para seus reguladores. A avaliação é do estudo “Empreendimentos Fintech na América Latina”, desenvolvido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Finnovista, uma organização que fomenta o desenvolvimento de empresas financeiras baseadas em plataformas tecnológicas.

De acordo com o levantamento, o Brasil é o país com maior número de fintechs na América Latina, com 230 empresas no setor, seguido do México com 180. Colômbia ocupa o terceiro lugar com 84, seguida da Argentina com 72 e Chile com 65. Esses cincos países concentram quase 90% da atividade fintech na América Latina.

O estudo identificou 703 empreendimentos em 15 países, com uma oferta de soluções que inclui mais agilidade, menos burocracia e preços menores para serviços financeiros. Três em cada cinco empresas foram criadas entre 2014 e 2016, refletindo o potencial que os empreendedores têm percebido no setor. Ao mesmo tempo, o estudo destaca que a maioria dos produtos e modelos devem amadurecer e crescer antes de se tornarem empresas sustentáveis.

Uma em cada quatro delas operam como plataformas alternativas de financiamento, oferecendo empréstimos, financiamento colaborativo (crowdfunding) ou financiamento por meio de intermediação de faturas. Outra quarta parte opera como empresa de pagamentos. Entre as demais, há segmentos como gestão de finanças empresariais e pessoais, gestão patrimonial, seguros e bancos digitais.

Entre os entrevistados, 41,3% afirma que sua missão é atender a clientes que são excluídos ou subatendidos pelos serviços financeiros tradicionais, seja pessoa física ou pequenas e médias empresas. Considerando que as fintech buscam resolver problemas concretos de seu segmento, este enfoque tem potencial para fomentar a inclusão financeira, avalia o estudo.

“Estamos presenciando uma revolução na maneira em que as pessoas e as empresas lidam com suas finanças”, afirmou Gabriela Andrade, especialista em mercados financeiros do BID. “Além de conseguir menores custos ao adotar canais digitais, as fintechs usam distintas fontes de informação e novas técnicas para avaliar os clientes, seu comportamento e risco, o que permite chegar aos segmentos excluídos de forma mais acessível.”

Segundo o presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Guilherme Afif Domingos, as fintechs são uma alternativa à concentração bancária no Brasil e podem auxiliar as micro e pequenas empresas que têm dificuldade em acessar crédito nos grandes bancos. “Por conta da dificuldade no crédito, quem financia hoje os pequenos são os fornecedores. Eles não chegam aos bancos e, mesmo quando conseguem, é por meio da pessoa física a taxas elevadas”, informou.

Regulação e setor público

Para que o setor possa se desenvolver e conseguir maior impacto, será necessário aprofundar o diálogo entre os empreendedores e os responsáveis por políticas e regulação. O estudo recomenda, por exemplo, a criação de bancos de teste regulatórios (regulatory sandboxes) temporários em que as fintech podem operar, avaliar seus modelos de negócio e oferecer seus produtos em ambientes monitorados, assim como permitir uma transição suave para os empreendimentos e seus entes de controle rumo a uma regulação e supervisão adequada.

“Os países melhor preparados em termos regulatórios poderão aproveitar o impacto que as fintech podem oferecer”, alertou Juan Ketterer, chefe da divisão de Conectividade, Mercado e Finanças do BID. “Nesse sentido, o tempo é um fator chave, considerando a velocidade com que essas empresas estão se desenvolvendo. Vários governos da região estão considerando o desenvolvimento das fintech como um dos pilares para reduzir a exclusão financeira.”

Em países como o Reino Unido e Singapura estão sendo oferecidas isenções temporárias sobre autorizações para as fintech e se observa um papel mais dinâmico do setor público para criar um sistema de apoio ao setor. Outra tendência recomendada é a criação de algum tipo de institucionalidade pública que sirva de interlocutor entre a indústria e os responsáveis pela formulação de políticas.

“A colaboração entre as empresas jovens e os atores tradicionais da indústria é um elemento indispensável que deve se concretizado na América Latina", comenta Andrés Fontao, Managing Partner da Finnovista. “A regulação é um tema que requer ser tratado pelos governadores e legisladores, não com um fim restritivo e de maior controle, mas desde uma perspectiva que promova a competitividade e a inovação no âmbito nacional e regional”, comentou.